:: espelho meu

setembro 02, 2018


gostos de filmes que são espelho. daqueles em que me vejo no ecrã.
daqueles filmes que nos fazem pensar na nossa vida, em que passamos mais tempo dentro das personagens, do que apenas a olhar a história. no ultimo que vi, mr jarvis cocker sai-se com uma observação filosófica: 'a vida é igual para todos, o que nos distingue é a dose de imaginação que cada um põe nela'. tão simples. e é para isso que servem os filmes, quase uma forma de nos vermos nas palavras dos outros, na forma de viver de outros. e, se pensar um pouco, se calhar é assim que faço nos dias: ando sempre por perto dos espelhos em que gosto de me ver. é um bom conceito.

com o que vemos no reflexo das pessoas, definimo-nos, não pelo que queremos ser, mas pelo que somos de verdade. não pela intenção, mas pelo resultado dessa coisa tão delicada que se chama intimidade. são mais tristes as pessoas que não têm espelhos. ou que os evitam porque não se querem ver. ou pior, porque não gostam de se ver. porque custa confiar no vidro. é frágil. e às vezes os espelhos partem, e por mais que se cole, que se remende, fica lá sempre aquele risco, feito cicatriz, a cortar a imagem limpa. faz parte do jogo. aliás, é aqui que entendo que muito do que somos, devemos aos outros. porque há pessoas que me fazem mais - mais divertido, mais leve, mais homem. há pessoas que me tornam um ser melhor, apenas pela forma como me entendem, me percebem, pela forma como tornam fácil partilhar essa intimidade. são espelhos em que nos fazemos bonitos. deve ser por isso, que gosto tanto de te dizer: 'és tu, quem me faz mais inteiro..'

mas, o que vibro mesmo, é ser o espelho das pessoas que gosto. saber que em mim sorriem, choram, descobrem, emocionam-se, excitam-se, amam. vivem. quase vício, é um privilégio sermos o reflexo de alguém. quase emoção, é ver alguém a ganhar expressão por nós, a ter aquele briho nos olhos quando nos vê, a soltar aquele sorriso tonto, feito berro, quando dizemos uma tolice. a escorrer uma lágrima por nossa causa, daquelas boas, quando se sabe que não se pode ser mais feliz, do que ali, naquele momento. mas curioso, nos espelhos "humanos" não vemos o nossa imagem reflexo. pelo contrário, vemos apenas o que a nossa presença provoca nos outros. é menos narcísico e muito mais doce. porque é isso amar: é projectar no outro todo o bem que lhe queremos. e sermos realizados assim. "em ti, faço-me feliz!" - deve ser a frase mais bonita, não de se dizer a alguém, mas de se sentir em alguém..


3 comments

  1. Anónimo3.11.14

    gosto!

    Paulinha

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  2. Anónimo5.11.14

    amo cada palavra que escreves, me faz acalmar, sintindo-me leve, suave, gosto muito da sua escrita! parabéns!

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  3. estou aqui sentada - há dias! - à espera que escrevas alguma coisa, importas-te? :-)

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