:: apanha-me, se conseguires.. que eu gosto

maio 29, 2015



às vezes temos de saber não nos levar a sério. especialmente nas coisas sérias. o saber brincar, o saber falar com ironia, desdramatiza, mas acima de tudo, desarma. e esse deve ser o clic mais fácil para arrancar um riso: desarmar alguém. no meio das declarações mais profundas, se soubermos ser irónicos, tornamo-las inesquecíveis. dizer a frase mais séria e apaixonada, mas conseguir soltar uma gargalhada no fim, é a declaração perfeita. mistura inteligência, paixão e bom humor - touché. o mesmo quando se faz amor. misturar a luxúria e o desejo, com carinho e ternura, é perfeito. mas se ainda por cima conseguirmos rir durante aquilo tudo.. - touché touché.

nas conversas, além da ironia, gosto também de chamar nomes. porque é uma forma honesta, mas leve, de dizer - porra, gosto de ti pá, mas está a irritar-me! há uma lista grande de palavras (idiota, parva, xoné, estúpida..), que ditas com o sorriso certo, tem uma forma carinhosa, quase doce, de insultarmos alguém. não é uma queixa, é uma constatação. como na primeira vez em que te disse "amo-te". lembro que estava difícil, porque nenhum de nós queria ir por ali. armados em independentes, muito seguros que o nosso coração não se deixava ir assim em poucos dias. raios partam, afinal quem eras tu para me deixares assim de quatro? mas deixaste. e lá me fugiu a palavra da boca, mas sempre nesse misto quero-te/irritas-me. ias a sair do carro, segurei-te a mão, e disse-te nos olhos: "amo-t, idiota" - e tu ficaste com um sorriso lindo. desarmado..

por isso me diz tanto esta música: este permanente - "sou bom/boa demais para ti, mas quero-te comigo, porque és tu que sabes mexer-me nos botões certos" - quase uma provocação, desprezo de brincadeira, vontade contida, mas sintonia tonta. sempre que a ouço, apetece-me pegar em ti, apanhar-te pela cinta e morder-te o pescoço. sei que vais dizer "larga-me", desatas a rir, e pulas pela casa a fugir de mim. e lá vamos nós, jogamos à apanhada, entre provocações, picanço genuinamente bom, gargalhadas parvas e sempre aquele olhar de crianças traquinas, a dizer: "apanha-me, se conseguires.. que eu gosto" 

:: o instinto

maio 15, 2015



as coisas maiores da vida não são construídas por nós - nascem em nós, que é bem diferente. porque não temos qualquer tipo de controle sobre elas. é assim na família, nos amores, ou até nas coisas mais banais, como os sabores que nos prendem. em todas estas coisas que sentimos, que temos prazer, carinho ou vontade, nunca há uma acção nossa para que começassem a ser sentidas. pelo contrário, é algo que vem de dentro, algures por ali, entre a alma, o coração e a capacidade de absorver a vida.

é assim no amor. começa num olhar, num desejo, num riso, e apenas sentimos que algo está ali a começar. depois vem o encaixe, os dias grandes em que tudo foi bom, os dias pequenos em que tudo foi difícil, mas em que chegamos ao fim, juntos. sabemos que estamos perdidamente entregues quando não conseguimos explicar o porquê - pergunta-se "o que amas em mim?", e a resposta é "não sei.. sei o que gosto em ti, o que me cativa, o que me prende. mas porque te amo? não sei explicar". porque é esta não racionalidade que torna as coisas grandes. mais que um sentimento que se percebe, é antes um instinto que vem de dentro, sem controle, sem botões on/off. com muita dedicação, cuidado e vontade, claro. mas a essência, aquele rasgo na pele, aquele nó na garganta? esse, raios o partam, tem vida própria..

mas mais intenso é o instinto paternal. e aqui não falo de gostar muito ou pouco de crianças - aqui falo de querer ter a minha criança, o meu piolho.. loucura, sentir esta coisa a crescer cá dentro, esta vontade de ter um ser que seja meu, que eu mime, que abrace, que eduque. quase transe, no meu caso, começou num filho que não sendo meu, já o é. já o cuido assim. preocupado com tudo nele, a toda a hora, na ânsia de um riso, de um olhar para mim, de um abraço.. ou como no primeiro dia em que me chamou pai. e todos dias, cada dia mais forte, sinto cá dentro, bem lá das entranhas, esta vontade de criar. verbo perfeito - criar. realização perfeita - poder criar a nossa filha, juntos. vê-la crescer, fazê-la uma pessoa linda, inteira, rabugenta, mimada, coração enorme, e este nosso olhar, que vai receber. e que um dia se orgulhe do pai, e da mãe, como nos orgulhamos dos nossos - é este instinto de passagem que não conhecia. e que me faz mais homem hoje. e melhor pai, amanhã..

:: os sentidos. todos.

abril 30, 2015



sou intenso. vivo de forma intensa.
o que é isso? simples: a intensidade com que se vive vem da forma como nos entregamos - aos dias, ao trabalho, a um amor. mas aqui, a entrega, mais que vontade ou dedicação, tem a ver com a forma como absorvemos o que vivemos. assim, a intensidade tem apenas a ver com o número de sentidos que pomos ao nosso serviço. temos cinco, mas nunca fomos treinados para os usar em simultâneo. um pôr-do-sol vê-se. ou será que se ouve também? ou tem cheiro a mar também? e uma música, ouve-se apenas? ou fica diferente conforme o toque da cadeira, conforme o sabor da bebida, conforme a luz da sala.. conforme com quem se partilha a música.

porque intenso mesmo, é quando se encontra alguém que nos dá ainda mais sentidos. aquelas pessoas que entram na nossa vida e mostram outro olhar, outro ângulo, não diferente - porque esses chateiam, criam ruído -, mas uma ligeira variação do nosso - esses completam. alguém que nos mostra mais um pequeno detalhe do que já gostávamos antes. misto de surpresa e riso tonto, quando alguém diz 'oh, eu também reparo nessas coisas!!'. e aí, ficamos ainda mais ansiosos, numa necessidade permanente de partilha, por mostrar uma música nova, por descobrir um canto novo na cidade, por provocar uma reacção nova, mesmo ao que já se viveu antes. deve ser a forma mais bonita de gostar - ser puramente feliz por provocar os sentidos dos outros..

e ainda há um sentido escondido: a memória.
é a intensidade na forma mais poderosa, quando a um sitio, a uma música, a um momento, juntamos a memória do que já se viveu ali. ás vezes choramos de saudade, ou de dor. outras vezes rimos sozinhos, apenas por nos lembramos do que já vivemos naquela música, naquela varanda, naquela rua. como agora, por mais longe que estejas, é a memória de te ter aqui, que me acrescenta força aos sentidos. é sentir o teu cheiro ainda na minha roupa, é ouvir uma música e ver-te a dançar pelo corredor, é ficar em silêncio no teu lugar da cama e ainda ouvir o teu respirar de sono sossegado. é ver o nascer do sol no quarto e tocar a memória da tua pele nua ao meu lado. é fechar os olhos, e ter-te em todos os meus sentidos. isso sim, é viver de forma intensa..

:: acordar

abril 08, 2015



gosto de acordar. mas gosto mais de acordar ao teu lado.
engraçado, como se desvaloriza o acordar, sendo no entanto um dos momentos mais sinceros entre duas pessoas. mesmo as que acordam mal. porque é quando se acorda que se é mais puro, mais transparente. entre cabelos despenteados, preguiça no corpo e pele amassada, é nesse momento que se é verdadeiramente bonito para quem se gosta. porque é quando se acorda que se dizem as maiores verdades, às vezes mesmo sem falar. especialmente quando não se fala. por exemplo, quando se foge da cama, entre pressas, desculpas e fugas repentinas. ou, pelo contrário, quando apenas se fica lentamente a sentir o outro, ali ao lado, próximo. porque o primeiro abraço, o primeiro olhar, o primeiro beijo, nunca enganam. dizem tudo da união que ali se vive. tão simples.

gosto de acordar. mas gosto mais de saber acordar-te.
porque o saber acordar quem gostamos implica uma intimidade grande. um respeito mútuo no momento mais cru da nossa personalidade. ali, os botões ainda estão meio desligados: o botão da simpatia, o botão da boa disposição, o da vontade, ou de coisas simples, como o botão da capacidade de se deixar tocar. acho mesmo, que a evolução de como se acorda é o verdadeiro avaliador de uma relação. a forma como se encaixa, se molda, se aprende a gerir. uns dias mais carinhosos, outros dias mais práticos. umas manhãs em que se ama, ou outras em que o melhor é mesmo nem falar, apenas dar espaço. mas é esse equilíbrio, essa capacidade de fazer da manhã sempre um momento bom, ou, pelos menos, um momento nosso, que prova muito do quanto se quer. 

gosto de acordar. mas gosto mais de acordar na tua pele.
perfeito, o primeiro toque do dia ser o calor da tua nudez na minha. quase ritual, encosto-me mais perto nas tuas costas, aperto um pouco o abraço, e respiro no teu pescoço. o teu corpo mexe aos poucos, junto ao meu. abres um olho devagar, suspiras, olhas-me por cima do ombro. e sorris, ainda em silêncio. digo-te bom dia de voz baixa, dou um beijo demorado, entre carinho e protecção. e quando estás bem, rodas o corpo em modo câmara lenta, enquanto me empurras para o meu lado da cama. pedes-me o peito e pousas a cabeça - entregue. e ali ficas os poucos minutos até acordarmos de novo. são os nossos minutos mais sinceros. em que se diz tudo, em silêncio. entre cabelos despenteados, preguiça no corpo e pele amassada, é nesse momento que és a mulher mais bonita para mim. tão simples..

::: but first, coffee

março 21, 2015



gosto de pessoas 'but first, coffee'. e nem tem tanto a ver com a bebida, mas com o acto em si. o acto de preparar. porque o café (quando é bem bebido) mais do que um vício é isso: uma ante-câmara de qualquer coisa. é o antes do dia começar, é o antes do almoço, é o antes da reunião, é o antes daquela conversa longa. por isso, não gosto de quem vai beber café e se vai embora logo no fim. é como ver um concerto e a seguir ir domir - tédio! um café, como uma música, não é um fim, mas o arranque de qualquer coisa. ou melhor, o motivo para qualquer coisa começar. como naquele primeiro convite que te fiz: 'vai mais cedo ao jantar de logo, e bebemos um café só nós dois, antes dos outros chegarem'.. que bom princípio.

nos dias, é sempre pelo café que começo. de preferência, ainda em casa, chávena grande, feito na máquina de filtro. além do cheiro que fica no ar, é a pausa antes da corrida que ajuda a centrar. planeia-se o trajecto, põe-se em perspectiva. ou apenas acorda-se. no trabalho, é essencial antes de cada reunião: um café, versão italiana, shot de cafeína para acelerar. aqueles dois minutos, em que se prepara a cabeça para o trabalho da próxima meia-hora. rápido e produtivo. ao fim do dia, o café com os amigos. não dos com pressa, tipo 'diz-me aí rápido como foi o dia', mas daqueles tradição antiga, do café central, em que nos sentamos, lemos o jornal, falamos do vizinho e das histórias eternas. daqueles cafés de mesas que se vão enchendo sem ninguém combinar. não é preciso. já sabemos que alguém lá vai estar naquela hora.

e os nossos cafés? são os mais memoráveis. ritual de iniciação, é sempre a primeira tarefa quando se chega a casa. ligar a máquina, pôr a música acertada com o espírito do dia, e apenas ficar. primeiro à espera do café se fazer, depois a bebê-lo demoradamente, sem horário, sentados no balcão da cozinha, roupa de casa, pés descalços que se vão tocando. gosto de te servir o café, enquanto falas rabugenta do dia. depois falo eu, enquanto mexes o açúcar. medida certa: 1 colher para mim, 2 e meia para ti. o sabor quente na chávena preta, e o teu olhar, ali em frente, a ficar mais sossegado. digo umas parvoíces e já sorris. levanto-me, e abraço-te de leve num beijo lento, com a minha mão na tua cintura, a dizer que te quer. volto ao lugar e ali ficamos a passar mais um bocado de dia. ritual do café. nosso, simples. perfeito.


:: as fotos. nossas.

março 08, 2015



sou viciado em imagens. em memórias fotográficas. por isso dou tanta importância ao cenário, aos pequenos detalhes de cada momento: a intensidade da luz, a música que se ouve, a vista que se vê, as cores de fundo de um canto da casa. ou, por oposto, deslumbram-me sempre as imagens de imensidão: emociono-me com cada pôr-do-sol, com cada lua cheia, com cada praia vazia. mistura dos dois, o vício bom de dormir de janela aberta, apenas para poder acordar com o sol torrado, a nascer lá ao longe, no limite do horizonte. a luz entra lentamente pelo quarto, primeiro as paredes amarelas, depois bate na cara, ainda na cama, quase cega, mas sente-se aquele calor bom. e fica perfeita, a fotografia do brilho do sol, a nascer na pele do lado..

mas o melhor de saber ver assim o mundo, é partilhá-lo com quem me entende, com quem me sente em cada foto. partilhá-lo com quem me vive, onde quer que esteja, quando vê as mesmas imagens. é essa a perfeição da coisa: a partilha da emoção. ou, mais bonito, quando se vê esta beleza no outro, na imagem do outro. por isso sou viciado em olhar. aquele vestido curto, aquelas calças que moldam o corpo, aquele pedaço de ombro sempre à mostra, aquele salto que faz a curva perfeita do pé. ou, menos carnal, quando se tira a fotografia mental de uns olhos fixos em nós, de brilho fundo e pestanas fortes - parecem que sorriem. ou, único, aqueles momentos de paragem de pensamento, em que ficamos a ver, quase filme mudo, os lábios de quem gostamos a mexerem-se, enquanto falam para nós - parece que amam.

por isso gosto tanto das nossas fotos. em especial das que guardo na memória. porque fizemos muito, dissemos mais, sorrimos tanto, mas há imagens, há momentos, há fracções de segundo, que já valeram por uma vida. e para a vida guardei-as em mim. porque é aí, nesse milésimo de minuto, que se distingue quem se ama - sintonia difícil, mas que diz tudo: quando, apesar de verem a partir de dois olhares diferentes, duas pessoas vivem na mesma fotografia. e, ironia, só se tem a certeza de tudo, quando a imagem que mais procuramos é a mais simples, a menos elaborada, mas, por isso, também a mais verdadeira. por exemplo, apenas o teu corpo, nu, descansado, a espreguiçar-se pela manhã. aquele momento em que te viras para mim, de olho ainda meio aberto, me dizes bom dia, e voltas a adormecer mais uns segundos, no meu peito.. a vida podia parar ali. 

:: agarrar(t)

fevereiro 25, 2015



agarrar deve ser a arte menos bem ensinada, mas tão importante para tudo na vida. a forma como se agarra um trabalho, uma profissão, uma vontade. ou a forma como se agarra um amor, um corpo, aquela pessoa. porque pode-se querer, gostar, lutar, mas saber agarrar algo, ou alguém, requer muito treino, muita entrega e sabedoria. agarrar é um misto de força e cuidado. de posse e entrega. por isso, gosto de quem me agarra com força, homem ou mulher: um aperto de mão forte, um abraço que prende, um beijo que arrepia. por isso, gosto de segurar com força, mostrar a vontade, a necessidade, a tesão, mas ao mesmo tempo (e aqui, a arte), saber parar no ponto certo onde se consegue misturar na força o cuidado, o carinho, e a doçura - salgada, sempre.

o tango, por exemplo, é a arte pura de agarrar quando se dança. a forma como uma mão diz o caminho, como um pé ordena os passos, sempre o homem, a comandar, a coordenar, mas a deixar a mulher brilhar. a dizer o caminho, mas a deixar-se ir atrás. cavalheirismo mais puro, esse cuidado de decidir, mas deixar ser ela a avançar. como quando se abre uma porta e apenas se toca com a mão nas costas, para ela passar primeiro, como que a indicar, discretamente, o caminho. mas a deixar-lhe a opção de ela o querer seguir.. mas voltemos à música, porque agarrar tem de ter ritmo. tem de ter o tempo certo. há momentos para se agarrar com força e outros para quase só tocar. momentos que se agarra, parados, tipo rocha, como quando precisas de chorar no meu pescoço, escondida do meu olhar. e momentos para se agarrar em dança louca, como quando te puxo pela mão no meio da rua, ou quando te agarro no meio da cozinha, beijo inesperado, suspiro no pescoço, e te solto logo de seguida - mas aí, só sei que te agarrei mesmo, depois de te soltar: quando ficas com aquele olhar parado em mim, quase sorriso de lado..

arte maior, saber agarrar os cabelos de uma mulher. a mão presa no pescoço a subir pela cabeça, lentamente, mas de pulso forte, entre força e vontade, mas sempre carinho. fica-se ali na tensão, entre te quereres soltar, e gostares de sentir o aperto de quem te quer. mente e corpo em luta. coração e cérebro a discutirem-se entre a liberdade e a entrega. entre a quase dor e o quase prazer. maravilhoso, como o corpo fala ali mais que mil palavras. não há teorias, razões, ou perfis que encaixem melhor, que testem melhor uma relação: é o corpo. é a forma como se move, como se toca, como se entrega. e, se a forma como agarra, diz muito de um homem, diz mais de uma mulher a forma como se deixa agarrar. a forma como se deixa prender, como se entrega, como se confia aos braços do seu homem. como diz, sem falar: sou tua.

:: tocar

janeiro 23, 2015



os amigos de verdade quando se encontram não se cumprimentam: abraçam-se. tem de ser uma regra, não de cortesia, mas de coração. quando chegamos a um café, não bastam dois beijos - é preciso um abraço, um toque de pele, uma presença de corpo. como quando vamos jantar, e ainda na porta, sai aquele abraço rápido. ou no fim da noite, um abraço mais demorado, como que a dizer: porra, foi bom este bocado contigo! lembro-me há pouco mais de um ano, um daqueles amigos de peito foi pai, e sempre que se despedia das visitas lá a casa, abraçava, demorado, de lágrima no olho, tal a felicidade que ele estava a viver. porque o abraço é isso: é mais uma forma de falarmos, de dizermos que queremos, que cuidamos, que agradecemos. uma forma, silenciosamente forte, de dizer que gostamos.

depois há os abraços de amor. em que mais que falar, queremos agarrar, para não deixar fugir. mais que prender, queremos entregar, para sentir a pele quente, o corpo próximo, quase vontade de união. é um misto de cuidado e necessidade, um misto de protecção e fragilidade. quando se abraça quem se ama, temos de dar e receber. temos de segurar, mas ao mesmo tempo, deixar-nos cair braços do outro, sem barreiras, sem medos. arte mais dificil do que parece, um simples abraço de amor - saber o balanço certo entre ser o homem, mas o menino também. em saber agarrar-te como uma mulher forte e segura, mas também como a menina frágil que nunca queres mostrar..

mas os abraços mais únicos, são os safados: aqueles em que se misturam vontade e o carinho, o desejo e o corpo. esses, tem que ter personalidade, impostivios, mas sem nunca passarem do limite certo da força. como quando conduzimos uma dança, a mandar por onde se roda pela sala. ou mais tarde, quando te abraço de mão nas costas e beijo no pescoço, a mostrar-te a vontade. ou quando te puxo o corpo, apenas preso pela cintura, e te arrasto bruscamente pelo lençol abaixo. ficas linda, nesse momento, com aquele ar surpreso, misto de te sentires desejada e dominada. como quando te aperto contra mim e mando no teu corpo enquanto te amo: por segundos, mordes lentamente o lábio, entre a tensão da força e a tesão da vontade. prazer puro. ou mais perfeito, minutos depois, já a respirar, quando te abraço um bocado de pele, na distância certa entre estar perto e deixar-te espaço para ti. olho no olho, e a minha mão, em pequenos movimentos, fortes, mas doces, quase embalo, até te ver adormecer ao meu lado.

:: really love

janeiro 17, 2015



andamos sempre a perguntar o que é gostar de verdade, a tentar perceber o que é isso de amar? ou, tantas vezes, a testar diariamente se aquela é a pessoa certa para nos entregarmos. primeiro, quando somos mais novos temos a ilusão da busca da pessoa perfeita: aquela que se encaixa nos padrões idílicos que fomos construindo. já adultos, percebemos que essa coisa não existe, que perfeito mesmo é alguém que se encaixa em nós de uma forma inesperada. mas, em que de repente, tudo bate certo: a forma como ri, o toque do abraço, o cuidado nos dias, e o beijo - sempre no momento e intensidade certa. depois vamos querendo mais, alguém que nos faça maior, que nos desperte sensores desligados, que nos mostre mais do mundo, que nos faça querer ser mais completos. não pelo outro, mas por nós. é desafiante ter ao lado, não quem nos traz mais vida, mas alguém que nos motiva a ser mais na vida. 

mas, a estes ingredientes todos - racionais, sensoriais, de vivência, de prazer -, tem sempre de se somar a coisa que liga tudo isto: a paixão. porque há pessoas perfeitas, que nos despertam todos os sensores, mas em que simplesmente não acontece o clic: aquele milagre de querer o outro de uma forma louca, sem sequer perceber bem o porquê - e é delicioso não conseguir saber explicar o porquê. porque preciso do teu abraço? mais que o corpo, é sentir-te junto, colada, metade de mim.. não te sei explicar melhor. porque preciso do teu riso? porque só ele me sossega, só com ele respiro.. não te sei explicar. paixão é isso, essa coisa de não saber explicar de forma racional e inteligente. suspeita-se da causa, dos motivos, da origem, mas não há ciência que descubra a fórmula. e se calhar, a magia da coisa vem daí mesmo. porque, no dia em que alguém me souber explicar com todas as variáveis porque me gosta, aí sim, vou ficar preocupado..

sempre acreditei que a paixão era uma coisa transitória, um bocejo de descoberta, um raio de luz que aquece, mas que dura apenas um dia. para mim, o amor vinha depois, quase forma consolidada de paixão, aquela coisa que nos mantinha junto na vida. mas não. sinto hoje, que o amor é a nossa base, é a estrada, é o caminho de alcatrão, forte, duro, que aguenta a noite escura, as discussões, os afastamentos. sim, o amor dá-nos esse caminho, mas é a paixão que dá a gasolina, a energia, a força. as noites passam, mas tem de vir o sol, esse calor que não se toca, para aquecer a sério. o amor prepara-nos, segura-nos. mas é a paixão que nos desperta, que nos faz avançar. por isso, preciso de manter este estado permanente de te querer a toda a hora, de suspirar pela mensagem minutos depois de desligar, de precisar do teu abraço todos os dias, até desta coisa física de te amar o corpo, estejas junto ou longe. ou, de apenas conseguir dizer-te adeus sossegado, depois de te soltar uma gargalhada. paixão pode não ser andar sempre nas nuvens, feliz, aos pulos, de peito cheio. porque não dá sempre - mas é sempre ter a certeza de querer esse estado. de correr para lá, de ansiar por chegar lá. é viver, todos os segundos, com aquele torpor de impaciência de chegar ao outro. isso sim, é estar apaixonado. explica-se? não.. ainda bem.

:: a vida que vale a pena

janeiro 03, 2015



felicidade é: 'algo que você faça e queira que aquele momento dure sempre um pouco mais'.
quem o diz é um filósofo brasileiro, Clóvis de Barros, com a simplicidade das palavras açucaradas do lado de lá do oceano. o conceito é simples: estamos num momento de felicidade pura quando temos aquela sensação que naquele instante, naquele lugar, a vida é perfeita, que não queremos que nada mude, que nada aconteça mais, que aquele segundo não acabe. que naquele momento estamos a viver 'um instante de vida que vale a pena ser vivida'.

para mim, a lógica é que na vida, o que nos faz feliz é a soma desses pequenos momentos - porque sim, não é possível viver assim em contínuo. ora, temos então de viver não a lamentar a saudade, a falta, ou apenas a correr para que as coisas acabem - que acabe o dia de trabalho, que acabe aquele jantar chato, ou até que acabe a semana, para chegar ao sábado. merda para quem vive assim - tem de ser ao contrário, temos de procurar (lutar) pelas coisas que façam um dia valer a pena. pode ser só uma música que se partilha, uma foto, uma mensagem, um riso que se provocou, um café a correr, um jantar num sitio inesperado, ou apenas ficar num sofá, a olhar o tecto e a dizer coisas parvas ao lado de quem gostamos - desde que em cada momento desses, a vida faça sentido. e que por um segundo, não se queira que aquele momento acabe.

e não, não é optimismo ingénuo, é apenas estar atento, procurar, be prepared, porque estes momentos estão sempre por aí, espalhados, à espera que alguém os apanhe, seja no café da rua, num encontro inesperado, numa fotografia instagramada no minuto certo, no encontro que se marcou, nem que seja só para dar um abraço de 5 minutos, nem que para isso se tenha de andar km's. não ter estes pequenos momentos de felicidade é mais preguiça do que não oportunidade. é mais receio, do que falta de chances. é mais pensamento elaborado (e complicado), do que simplificar a vida. e claro, se pudermos ter alguém ao lado que nos dá momentos destes, então sim, sabemos que é ali o nosso lugar: quando se quer que aquela pessoa fique sempre um pouco mais..

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