:: sempre mais

fevereiro 07, 2016


gosto de viver apaixonado. é tramado, às vezes complica, mas é a única forma de fazer valer a pena cada hora do dia. sou apaixonado pelas pequenas coisas da vida: aquele nascer do sol na janela, o cheiro do café da manhã, as gotas da chuva no vidro do carro, a imagem da ponte com o mar ao fundo, a música alto e eu a assobiar, a música baixo e eu a olhar-te. gosto de treinar os sentidos para estarem todos alerta, todos a apanhar os pequenos momentos que fazem um dia sempre diferente, sempre qualquer coisa mais bonita, mais doce, mais salgada. mais intensa. é isso que é viver apaixonado: é ser intenso. é ser sempre mais..

complica? muito. dá trabalho? porra, se dá. mas é tão bom. e é simples - é uma questão de gestão. é saber equilibrar uma vida entre a responsabilidade, os compromissos, a brincadeira, a parvoíce, o amor estável e forte, e a paixão, louca e bipolar. viver apaixonado não é andar sempre nas nuvens. pelo contrário, é andar bem assente na terra, mas todos os dias, no mais pequeno detalhe, sentir aquela emoção, e viajar, nem que seja por segundos, ao mais longe dos destinos. irritam-me as pessoas que baseiam a vida apenas no racional. ficam previsíveis, monótonas, sisudas, mesmo no maior sorriso - porque é lógico. e eu gosto mais dos risos puros, sem lógica, sem motivo aparente, só porque sim, só porque do meio do nada veio aquele aperto no peito, aquela vontade de rir, seja do nervoso do momento, da emoção, ou apenas do toque de um olhar que se cruza em nós.

porque bom mesmo é viver apaixonado por alguém. primeiro pela pessoa que somos. às vezes erramos, às vezes distraímo-nos, mas saber sempre que gostamos do que somos. e do que fazemos acontecer nos outros. depois, ser apaixonados pelos filhos. são tão mais bonitas as pessoas que vivem apaixonadas pelos seus. emocionam-me. como tu. e acredita, bom mesmo é viver apaixonado por ti. chega a ser irritante dizer-te sempre que te vejo: 'estás linda!'. mas porque estás verdadeiramente. pelo menos aos meus olhos. sabes, a voz embargada quando te digo que te amo, depois de acordar contigo, é pelo espanto, cada dia sempre novo, de como é bom sentir-te. como se o peito tivesse sempre um pouco mais cheio, um pouco mais feliz. sempre um bocado mais. é isso que somos: sempre mais. é isso que me embarga o amo't. e é tão bom..

:: não mudes

novembro 22, 2015


é quando amamos que revelamos o nosso maior egoísmo: querer que o mundo seja à nossa imagem. erro tão puro, de quase inocência, mas tão grande, de quase cegueira. é que a forma como gostamos, ou entregamos, é apenas isso - a nossa forma, que não é repetível por mais ninguém. por isso não o podemos esperar que aconteça, e muito menos exigi-lo. arrepia-me a alma sempre que alguém diz que quer mudar o companheiro. tanto egoísmo, mas mais que isso, tanta burrice. porque somos o que somos, e só por nós podemos mudar. assim, olhem para quem vos quer como a pessoa que é, com os defeitos e virtudes que tem, com a forma de entregar, de mostrar, de dizer que tem. é essa que podem contar para sempre. o resto é apenas a vossa ilusão do que outro é.

por isso, o elogio mais bonito que alguém pode dar ao companheiro é pedir para que não mude. nada. que fique exactamente como está, porque é assim que se descobriu a atracção, a ligação, a intimidade. foi assim que se descobriu o amor. claro, que com a vida, todos mudamos um pouco cada dia. mas aí, é algo que vem de dentro e não que é feito por pedido de alguém. quando duas pessoas estão juntas e mudam porque o outro pede, estragam-se. anulam-se. matam-se um pouco em cada mudança. quando duas pessoas estão juntas e naturalmente, cada uma, muda sem quase ter consciência que está a mudar, aí sim, crescem, amadurecem, ficam melhores pessoas. juntas.

foi assim que fiquei mais homem, mais amante, melhor companheiro, e até, admito-o, mais confiante. não porque mo pediste, mas porque mo despertaste. não porque algum dia disseste: muda isto ou aquilo, mas pelo contrário, por saber que era tanto para ti, que passei a confiar mais no meu instinto. foi assim que ficaste mais mulher, menos fechada no teu mundo, menos gajão, e até, tens de admiti-lo, mais feliz com o amor. não porque te pedi alguma vez que o fizesses, mas porque descobriste, por ti, que havia outra forma de entregar o olhar, o beijo, e até o corpo.
é bonito vermos no espelho a imagem a mudar e gostarmos do que vemos. mas mais, sabermos que é por ter alguém especial ao nosso lado, que nos potencia o que éramos no ponto de partida. podem haver mil problemas, indecisões, mágoas, dificuldades, mas quando sabemos que crescemos juntos, que somos melhores pessoas juntos, a viagem é sempre única. e esta mudança sim, mais que as palavras, ou o amor, fica para sempre.


:: parte de mim

setembro 17, 2015


há coisas na vida que se gostam.
que nos sabem bem ao sabor, aos sentidos. coisas que nos fazem felizes por momentos, ou por dias. uma música, um jantar realmente bem feito, uma paisagem ao por do sol, umas férias - curtas ou longas, aquele casaco no primeiro frio do outono, ou aquela camisa de linho nas primeiras noites quentes de maio. ou o toque dos pés na calçada quente nessa mesma noite. momentos que se vivem por minutos ou horas, mas que nos dão sensações de prazer, que ficam na memória curta e que nos fazem dar sentido aos dias: adormecemos com aquela imagem de um dia bem passado, bem vivido. e um sorriso feliz.

depois há coisas na vida nos preenchem.
o abraço da família, o riso dos amigos, um olhar de ternura quando se tem um gesto bom, uma mão que toca, quando se diz adeus. mais que momentos que se vivem, são sensações que despertamos nos que rodeiam. interacção bonita esta de dar e receber, de soltar risos em alguém, de emocionar alguém. uma brincadeira no trabalho, um telefonema na parvoíce, o permanente divertir, provocar, sentir quem nos rodeia. quase defeito, esta procura permanente de perceber o outro em frente, de o animar, de o confortar. ou simplesmente de cuidar. são especialmente bonitas as pessoas que se perdem a cuidar dos outros, dos que nos pertencem, sejam família, amigos, sobrinhos, ou apenas próximos. porque são esses momentos que nos dão sentido à vida: adormecemos com a sensação terna que fizemos o nosso melhor por alguém, que fomos o melhor de alguém.

mas único, são as pessoas que nos fazem completos.
sim, porque podemos ser felizes, ter o coração cheio, podemos ser independentes de todos, mas no fim do dia, há uma coisa que nunca seremos sozinhos: completos. podem vir mil filósofos das teorias modernas da independência, mas quem já amou de verdade, entende bem o que digo. porque quando se conhece a outra metade de nós, percebemos que fomos feitos assim: apenas metade. na espera do outro encaixe, da peça do puzzle que fica ali, exactamente no abraço perfeito, no corpo que se sente colado, no beijo que é energia, na pele que se toca e dá choque.

não é alguém igual a nós, isso é a nossa cópia. não, mais que isso, é alguém que sendo diferente, tem os pontos de encaixe perfeitos em nós. que tanta vez dão faísca, que arranham com as dificuldades da vida, que magoam com as merdas que fazemos torto, que quase partem com os timings errados. mas é a única peça em que sentimos o alívio estranho de que não há mais nada para ver, para procurar. aquela em que para estar em sossego, apenas precisamos do nosso canto, os dois, sozinhos. em que a conversa nunca acaba, o riso é sempre parvo e bonito, o amor é sempre lamechas e exagerado, em que o desejo é sempre louco e permanente, só superado pelo sossego do sono junto. são esses momentos, tão simples - basta eu e tu - que me dão sentido ao corpo: em que adormeço com a certeza rara que é ali, parte de ti, que sou maior. 



:: desejar

agosto 13, 2015


preciso de te desejar, de te querer, de ter vontade de te amar o corpo, todos os dias, todas as horas. faz-me sentir vivo. faz-te sentir bonita. basta um bocado da tua pele a tocar na minha, uma mão que pouso mais forte na tua perna, um abraço que prende mais na tua cintura, um dedo que te toca naquele ponto preciso do pescoço.. ou apenas um olhar que se cruza entre um lábio mordido. e depois ficas com aquele teu sorriso, em jeito de aviso: pára se ser assim, tarado! e lá continuamos o dia, com aquele sabor a metal a ficar na boca, a dizer que logo mais, quando tivermos tempo, e cabeça, nos vamos amar. mas o desejo, esse, está lá. fica lá. vive lá. a toda a hora. porque é também uma forma muito bonita, e muito necessária, de se amar.

irritam-me as teorias que dizem que há horas, rituais, modelos, regras para se amar. que tem de haver um mínimo e um máximo por semana, uma hora ideal, uma posição, aqueles preliminares, ou aquelas técnicas. foda-se, o desejo, quando existe, não precisa de tanto disfarce, nem de tanto impulso: solta-se logo que pode, como um leão fechado numa jaula, sempre a rugir, sempre a querer, sempre faminto. não só do corpo, mas acima de tudo da alma. porque o desejo que estou a falar não é apenas o físico. não, é o outro. que mais do que carne, quer emoção. mais do que prazer, quer entrega. mais do que gritos mudos, quer olhares perdidos no outro.

entendes por isso, porque te desejo sempre? quando sobes as escadas à minha frente e me deixo ficar um passo atrás, apenas para te ver subir degrau a degrau. quando te vestes pelo corredor da casa e fico a ver a roupa a vestir e despir o teu corpo. quando tomas o café na cozinha e os teus pés deslizam pelas minhas mãos, por baixo do balcão. quando te incendeio, apenas a descrever a minha vontade de ti, no meio do jantar, naquela esplanada sobre o rio. ou quando te agarro o pescoço, em qualquer elevador, apenas para te parar o olhar no meu. ou mais sincero ainda, quando acordas nua, ao meu lado na cama. o sol na tua pele, aquece a minha. o teu jeito vagaroso de te espreguiçares, as tuas pernas esticadas pela cama, o teu pescoço a rodar lentamente, até me veres o sorriso. até me sentires o sabor da manhã nos teus lábios. até te dizer bom dia, com o meu desejo..


:: a arte de oferecer

agosto 05, 2015


a arte de oferecer um sapato é mais elaborada do que se pode pensar. ou pelo menos, a arte de deliciar-se a oferecer uns sapatos a uma mulher. primeiro as coisas básicas: tem de ser uma surpresa, inesperada. impagável os gritos de susto bom quando ela abre o saco, ou quando vê uma caixa vermelha de laço discreto em cima da mesa. aquele grito meio surpresa, meio alegria, meio criança babada, meio mulher excitada. depois tem de ser diferente: não pode ser mais um sapato, nem um sapato qualquer. tem que ser aquele sapato que marca a diferença. ou pelo sapato em si, ou porque já foi desejado numa montra, ou porque tem a cara de quem o calça. mas sempre diferente do que já existe. mais um salto alto preto não conta. tem que ser ou mais alto, ou mais inclinado, ou mais vermelho, ou mais tigresse. mas sempre mais. ah, e nota importante: nunca oferecer o sapato na loja. guardar memória fotográfica do modelo, e voltar umas horas depois sozinho. é a diferença entre oferecer e saber oferecer.

depois o enquadramento da oferta. sim, porque não basta chegar a casa e entregar o saco, tipo, toma lá, gosto tanto de ti, mereces tudo. não!! porque se realmente merece tudo, temos de de criar o ambiente certo: antes daquele jantar a dois, ou a meio do cafe antes de almoço, ou naquele bocado de fim de tarde no sofá. porque a mulher precisa de respirar a oferta. olhá-la primeiro, vê-la, emocionar-se, gostar. uns minutos depois pegar nos sapatos, calçá-los nos pés, desfilar pelo corredor, ver-se no espelho, dançar com os sapatos. e outros longos minutos depois, agradecer da forma mais bonita, ainda com os sapatos nos pés. é preciso tempo para oferecer uns sapatos. e quanto mais especiais, mais tempo é preciso guardar. para que se respire o sapato. e a dona dele.

mas primeiro que tudo, o actor principal: o pé. o sapato é apenas o motivo, mas a estrela é o pé dela. os dedos discretos, mas com personalidade, aquela curva perfeita, esguia, quase seda, ao longo do pé, a terminar no calcanhar suave, cintado no tornozelo, onde se acaricia como a um pulso. tanta beleza precisa de um encaixe perfeito - um sapato que seja luva. por isso importante saber o tamanho exacto, quase conseguir desenhá-lo com a mão. porque não há nada mais bonito que ver o teu pé a encaixar no limite perfeito da curva do sapato. são dois presentes que oferecemos num só: o sapato, e ela saber quão veneramos detalhadamente todo o corpo. três presentes aliás, porque o melhor é o meu: quando fico ali, na delicia de te ver, e ao teu pé, a calçar e descalçar, a brincar, a dançar, a desfilar. quando gritas de surpresa, quando ris de gozo, quando andas pela sala só para te exibires para mim, com o sorriso maroto de quem sabe o que me faz feliz..

FOLLOWERS