:: as estações

outubro 18, 2013



gosto de pensar na vida, e nos dias, como ciclos que se sucedem. ciclos que nos conduzem num caminho direito a um fim, mas com alguma forma de repetição. todos os dias começam e acabam no mesmo momento e da mesma forma. as horas, e os meses, repetem-se de 12 em 12. e um ano tem sempre quatro estações. quatro momentos de um ciclo, que 365 dias depois se reinicia. ou a lua, que teima em encher o céu com a sua repetição, monótona, mas ainda assim sempre surpreendente..

nas estações, tal como na vida, cada ciclo tem uma finalidade - e uma forma de ser vivido.
o verão enche-nos de energia, de cor na pele, de forças para o inverno rigoroso. o outono como que prepara para a luta, em modo de aviso. o inverno consome-nos as entranhas. dias mais escuros, mais sombrios, mais curtos. chegar à primavera é o objectivo de cada espécie, onde já vai haver mais alimento, mais cor nos jardins, mais luz solar. nas relações - nos amigos e nos amores - o ciclo é igual. repete-se entre momentos quentes e próximos, e momentos mais frios e distantes.
mas aqui, ao contrário do que seria normal, são os invernos que fazem crescer as raízes que seguram. gostar de alguém nos verões de uma relação é fácil. naqueles momentos em que tudo é sol e festa, em que os dias são longos e as noites de brisa quente são intermináveis, ai é fácil ser feliz. naqueles dias em que tudo corre bem, em que os horários se encontram, em que os amigos aparecem para jantar, em que a musica, em shuffle, bate sempre certo com o riso. aí é mais fácil ser feliz, aí um amor cresce, cria laços, ganha dimensão. mas não fica forte. fica maior, mas não forte.

a força de uma relação nasce nos outros dias, nos dias difíceis.
nos invernos rigorosos, em que o cinzento enche o céu, em que a neve traz um silêncio sufocante. nos dias em que tudo corre mal, em que o trânsito atrapalha, em que os amigos chateiam, e até a nossa simples imagem num espelho nos irrita. nesses dias, estar com alguém, mesmo longe, e conseguir chegar ao fim do dia ainda mais próximo, isso sim, faz ganhar pilares inquebráveis. quando tudo é difícil, quando tudo é dor e aperto, mas ainda assim se mantém o sorriso para quem se ama, quando só dizer o nome dela mantém a alma cheia. quando tudo é peso nos ombros, mas ainda assim a vontade é do abraço que sossega, e que, de repente, nos faz ficar leves. quando no meio do inverno é ao amor que nos agarramos, como se fosse a maior e mais segura das rochas, aí sim, sabemos a força das raízes que cresceram no verão. e como em todos os ciclos da vida, sabemos que o inverno há-de sempre passar. e que a primavera é já para a semana..

2 comments

  1. arrisco a beliscar a perfeição do post só com este comentário. na realidade o "sem comentários" que aparecia no final encerrava-o na perfeição com que foi escrito. até me apetece o inverno. [como tal, talvez seja bom ignorares o comentário. beijos]

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  2. Identifico-me, e obviamente gostei. Amar no verão é fácil. Os amores no inverno precisam quebrar muitas mais barreiras.

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