:: o sopro

fevereiro 16, 2008

No lume, coloco o açúcar, meia chávena de água e os meus 30 anos feitos hoje.
Deixo ferver durante 10 minutos e adiciono as gemas ligeiramente batidas com leite de coco no swing de Joe Chambers. Novamente no lume, faço a colher dançar até se tornar consistente e começar a salpicar.
Em cada gota que se estende além de si, revejo desejos ditos em silêncio
aquando do apagar de velas noutras noites, outros bolos.
Existem duas datas do ano em que me costumo dedicar ao acto de nada fazer: o primeiro dia do ano e hoje..
Enquanto Albert Stinson solta notas aveludadas do contrabaixo, num solo maravilhoso,
as natas vão ao fogo em banho-maria. Entre então em cena o chocolate e o rum.
Sempre quis dedicar-me
à culinária. Não querendo trilhar o caminho do mestre de na roça com os tachos, atrai-me a alquimia que esta por detrás da confecção de um prato.
De certa forma, queria estar para esse mundo como estou para a música.
Sem ser musico, encontrar musicalidade num verso perdido e partilhá-lo.
Sem precisar de ser um Jamie Olivier, poesiar com aromas e sabores e alimentar estômagos afectos.
Termino o bolo, recheando-o com chocolate e doce de ovos. Coloco as velas e repito o ritual.
Formulo um desejo e entrego-o aos deuses num sopro.

‘ kalaf, in publico

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