:: woody

janeiro 12, 2010



"olhe, Kaiser, entenda-me: claro que um homem pode satisfazer-se com qualquer mulher objecto. mas as mulheres verdadeiramente inteligentes - ahh, essas não são fáceis de encontrar..
falaram-me de uma certa jovem. dezoito anos. estudante em Vassar. por um certo preço, encontra-se com uma pessoa e discute qualquer tema.. Proust, Yeats, antropologia. troca de ideias. 

eu quero que me perceba, a minha esposa é maravilhosa, realmente maravilhosa. não me interprete mal. mas é incapaz de discutir P
ound comigo. ou Eliot. não sabia isso quando me casei. compreenda, eu preciso de uma mulher cujo espírito me estimule. e não me importo de pagar. não procuro uma relação duradoura.. apenas uma experiência intelectual rápida. Depois, a rapariga que despareça. Kaiser, eu sou um homem bem casado e feliz!
- há quanto tempo dura essa situação?
seis meses. sempre que tenho esse desejo, ligo a Flossie. ela é uma senhora, com um mestrado em  Literatura Comparada. manda-me logo uma intelectual, compreende?"

um dia, fui mesmo até à livraria. carreguei num botão e uma parede forrada de livros abriu-se. entrei como um cordeiro nesse buliçoso palácio de prazeres que Flossie dirigia. paredes cobertas com papel vermelho e uma decoração vitoriana davam o tom. raparigas pálidas e nervosas com óculos de aros negros e cabelos curtos, estavam deitadas indolentemente em sofás, folheando provocadoramente os clássicos da Penguim.
mas não se tratava apenas de experiências emocionais. por cinquenta dólares, disseram-me, era possível "comunicar mantendo as distâncias". por cem, uma garota emprestava os discos de Bartók, jantava e deixava que a vissem sofrer um ataque de angústia. por três notas, obtinha-se um serviço completo: uma judia morena e magra fingia-se encontrar com um tipo no Museu de Arte Moderna, deixava-o ler a sua tese de doutoramento, envolvia-o numa discussão aos berros no pub Elaine por causa das concepções de Freud sobre a mulher, e a seguir simulava um suicídio de qualquer género que ele escolhesse.. um serão perfeito."


# excerto de "a prostituta de Mensa" _ Woody Allen

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