:: femme fatale

abril 13, 2011



como falar de dentro do som?
há uma vibrante reflexão de um intérprete de jazz que anda próximo de o conseguir.
existe, diz ele, aquela canção que nos conta uma história. sugere-nos determinado estado de espírito. acompanha-nos ao longo do dia. compõe determinado quadro. e se for boa – se for competentemente elaborada e meticulosamente executada, se activar todos os botões certos – permite atingir notáveis zonas de intensidade e de impacto. fornece-nos um sentimento forte, excita-nos e distrai-nos. mas a sensação é descendente. o impacto é temporário. a história, por mais que nos toque, pertence, ainda assim, a um tempo particular, a um lugar, a uma fase de estilo, a um dado contexto cultural. perecível em virtude do seu próprio excesso de significado e de literalidade, a canção está datada. está destinada à nostalgia. não interessa o quanto a canção inicialmente mexeu connosco; é possível que mais cedo ou mais tarde acabemos por partir; e, quando o fizermos, deixaremos essa canção para trás.


então, há uma outra canção

que inspira uma história que nós próprios podemos contar. esta canção pergunta-nos como nos sentimos. deixa-nos guiá-la para onde nos fizer sentido levá-la. providencia-nos uma paleta de cores, as tintas, talvez até um esboço preliminar; mas dá-nos o pincel e a escova de pintura. com eles se constrói o cenário à nossa volta. o seu conteúdo são os nossos amigos do costume (e também os inimigos). eles falam um dialecto que nós entendemos sem reservas. somos parte integrante da acção. a história deixa uma imensidão de espaço para a nossa singular imaginação. envolve-nos. não apenas tolera quanto, sobretudo, solicita a nossa participação interveniente. e se for boa – se for poderosa, se for inventiva, se for sedutora – então a experiência emocional que ela garante situa-se a um raro nível de profundidade, em virtude da nossa participação efectiva na sua criação. o impacto é duradouro: porque foi condicionado e fortificado desde o interior. a história permanece: porque nos percorre, onde quer que estejamos, onde quer que a contemos. a canção é para sempre. é intemporal. está sempre connosco, porque a canção somos nós..

'excerto de um plano de negócios de um projecto empresarial. tanto de improvável, como de brilhante.

0 comments

FOLLOWERS