:: teoria do hotel

junho 04, 2013



há alturas, como agora, em que passo várias noites quase seguidas em hotéis, e por mais que goste de hotéis, e gosto, experimento uma espécie de inquietação. investiguei um pouco essa inquietação trazendo comigo para um hotel um ensaio chamado “Hotel Theory” (2007), de Wayne Koestenbaum, onde se diz, a certo ponto, que um hotel é uma ideia de casa e uma ideia de futuro.

uma ideia de casa por ser o contrário de uma casa?
um hotel é passageiro, inautêntico, hostil, alienado, nesse sentido diferente de uma casa, mas um hotel pode ser mais confortável do que uma casa, pode ser mais seguro e mais privado do que uma casa. eu não diria que o hotel é o contrário de uma casa, talvez nem me importasse de viver num hotel, mas acho que uma casa “vale” mais do que um hotel, que tem um valor estimativo que é um valor simbólico:
- a casa de certo modo representa “a vida” e um hotel é uma suspensão na vida. isso aproxima-nos da ideia, intrigante e contestável, de que enquanto a “casa” é um elemento feminino e maternal, o “hotel” é masculino. há certamente nos hotéis uma espécie de experiência (vaga) de aventura que eu geralmente identifico com o masculino, isto é, com a diferença e a mudança. o hotel não é bem um lugar, é um não-lugar, um sítio, uma colecção de escadas, piscinas, sofás, elevadores, camas, cortinas, televisores, banheiras, garrafinhas de uísque..

o que é então o futuro num hotel, que futuro é esse?
talvez nem haja um futuro mas apenas um horizonte. o horizonte num hotel é a data de saída. o “check out” é o nosso futuro, faz sentido. que poderemos nós ver além disso, naqueles sítios hospitaleiros e inóspitos, imaculados e anónimos, automáticos, previsíveis, luxuosos, efémeros? um quarto tem mais personalidade do que o ocupante de um quarto, esse é mutável, muda, é mudado. quem é observado é quem fica num hotel, observado por si mesmo, em espelhos demasiado grandes e cruéis, em vidraças ao cair da noite enquanto recebe um telefonema, com a luz gelada do minibar e por cima uma natureza morta de imitação. e então, às 2.45, o futuro é talvez aquilo que diz Greta Garbo em “Grand Hotel”:  “I want to be alone”. 


[ Pedro Mexia ]

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