:: coisas com alma
janeiro 10, 2013há sítios que têm vida. que nos fazem sentir qualquer coisa diferente. quase que têm alma.
gosto particularmente daqueles sítios que nos fazem estar com nós próprios. que nos limpam a cabeça e nos nos fazem alinhar os pensamentos de uma forma positiva. inspiram. passando os preliminares, em lisboa, gosto particularmente dos pontos que nos fazem sair da cidade, estando dentro dela. quase como um vidro protector, em que vemos a cidade e o rio, mas que por momentos nos fazem estar numa cápsula, que nos isola do ritmo frenético mesmo ali a correr nas nossas costas. os de sempre: o àmargem, a cair no rio, o jardim do museu de arte antiga, ali a olhar o rio, o miradouro da graça, com o rio lá ao fundo, e a esplanada do hotel do chiado, ali com o rio de lado. é escolher uma hora calma, com poucas pessoas, e de repente estamos numa espécie de recanto de sossego. acho que é a força da paisagem, a encher-nos o campo de visão, que nos liberta do dia-a-dia. e deixa espaço para nos focarmos em nós.
melhor mesmo só aqueles sítios que nos fazem ficar suspensos sobre a cidade. dois em particular: duas pequenas piscinas, de dois pequenos hotéis, muito similares no espaço, mas diferentes na utilização. primeiro a piscina/bar do memmo alfama. escondido no meio da subida para o castelo, entra-se no hotel, quase como uma gruta que se abre para um penhasco sobre a encosta de alfama. a piscina serve apenas de espelho de água, que acaba no rio, como se estivesse ali mesmo à mão. truque perfeito de arquitectura. com a música a condizer, e o espaço quase vazio, sente-se paz. respira-se mais leve. idiotas os que vão lá só passar o tempo. ali tem de se ganhar tempo. entre um gin que se bebe devagar, uma paisagem que nos esmaga, e o burburinho da cidade lá em baixo, fica aquele semi-silêncio estranho, mas bom: o nosso silêncio - quando temos (finalmente) tempo para ouvir-nos a pensar.
a perfeição, passar um dia de sol na piscina do telhado do altis belém (ou rooftop, como dizem as modas). dois livros, musica nos ouvidos - calma, mas bem disposta -, e apenas estar. porque além do silêncio, quase que nos sentimos dentro do rio. e ganha-se o ritmo lento dos barcos que passam a deslizar, elegantes, sobre a água. o coração acalma a pulsação, mas melhor, a alma acalma o ritmo. ali, sozinho, ganha-se tempo: porque não há pressa de ir, porque não há gente a andar, porque não há carros a passar. ali, move-se tudo ao ritmo do sol. lento, vagaroso, quente. estica-se o corpo, inspira-se a brisa fresca do rio e bebe-se uma água gelada. quase purificação, é um dia de encontro. bom ou mau, falamos para nós, sem falar. têm-se as ideias que andavam a palpitar mas não tiveram tempo para sair, lembram-se as pessoas que queríamos dizer "saudades de ti" e não tínhamos tido tempo para o escrever. acalma-se a ansiedade por quem queremos ter ao nosso lado, mas que ainda não chegou. ali, fazemos as pazes connosco. um dia inteiro, em semi-silêncio a alinhar a nossa espinha dorsal. e a encontrar o que mais importa. que não é ter coisas. é antes saber deliciar-se com a alma das coisas.
1 comments
que maravilha! demais essa descrição de profundo amor! tive a sorte (sorte mesmo!) de ter na minha memória tudo o que descreves. não pares de escrever para bem da humanidade :)
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