:: vai dar certo

agosto 21, 2014



ao longo da vida fomos ensinados a limitar o que nos rodeia. primeiro o tempo, ou o que fazemos dele: a escola que tem horários, o sono que tem horas, as refeições que tem tempo. as férias que tem só aqueles dias, ou o trabalho que tem um relógio. depois limitaram-nos as opções: os gostos, as vontades, o que se veste, o que se ouve, o que se quer. e por fim, viciaram-nos as emoções, com tanta teoria e conselho sobre o que é amar, o que é uma relação, uma família. mas todos estes limites tem uma premissa perigosa por detrás: o querer racionalizar tudo, explicar tudo. é isso que os computadores fazem: nunca erram, porque vivem nos parâmetro da lógica. e é para isso que fomos programados: para ter um sentido objectivo em tudo o que fazemos.

pois, alguns de nós, os que querem (sabem) verdadeiramente entregar-se, conseguiram ao longo da vida libertar-se destas amarras: trabalhamos só quando achamos que sim, dormimos pouco, trocamos os dias pelas noites, o sol pela lua, a televisão que desligamos, pela música que veneramos. trocamos a poesia rimada, pela prosa livre. trocamos as ruas cheias de dia, pelas vielas onde nos beijamos à noite. e foi assim, sem limites, que aprendi a entregar-me a tudo sem medo: aos projectos de trabalho mais loucos, às opções mais arriscadas, aos caminhos menos óbvios. louco dirão alguns. sim, muito. mas é graças a este nível bom de loucura que consigo esticar a mente - e a alma. na profissão, em que misturo mil campos diferentes, na vida, no salto constante entre modos de estar e aproveitar. na personalidade: que, sem limites, goste-se ou odeie-se, é cheia de erros, mas única, e impossível de formatar num tipo, numa etiqueta. numa lógica.

e tem dado jeito, muito jeito, saber, por amor, esticar os limites. os limites do perdão, do querer, os limites da angustia que se suporta, da vontade férrea que segura. o saber dar, não para receber, mas pelo prazer de fazer alguém feliz em nós. porque aqui trocamos os amores racionais pelas paixões loucas. trocamos a segurança de uma relação, pela constante inquietude de uma alma gémea. trocamos o sono calmo, pela insónia junta em conversas tontas. trocamos o conforto do pijama da noite, pelo toque do corpo nu da manhã. porque rimos depois do choro, amamos em vez do sexo, gritamos depois do abraço, porque magoamos, antes de cuidar. sim, fazemos tudo ao contrário, fazemos tudo errado, mas no fim tudo certo - porque pode não ter lógica, mas tem uma vontade: viver com quem já está em nós. e se há coisas na vida que se lutam sem limites, o amor tem de ser uma delas. mesmo que corra mal. uma vez. ou duas, ou três. porque, como me disseram baixinho no outro dia: "vai dar tudo certo. e se não der, nós fazemos tudo outra vez.."

7 comments

  1. Anónimo22.8.14

    "... o corpo nu da manhã". bonito

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  2. Quero muito acreditar "que vai dar tudo certo..."

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  3. Anónimo25.8.14

    Acreditar e tentar sempre porque.... vai dar certo.

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  4. Porque és realmente alguém especial... Sou apaixonada por ti... pela tua escrita, por essa pessoa que me salta o écran... Não interessa quem és... apenas o que me fazes sentir... esse é o amor que acredita, onde a vida tem sabor... o resto, o resto são tretas...

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  5. Desculpa o atrevimento, mas tenho de o dizer - que sorte encontrar alguém na vida, com esta clareza de pensamento! é apaixonante ler-te!
    beijos virtuais ;)

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  6. Ana Paula18.2.18

    Tudo tão bonito, tão bem pensado e escrito que muda meu jeito de olhar e viver a vida como se encontrasse a tradução exata do que senti a vida inteira sem nunca ter entendido. Escreve mais. Escreve sempre!

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