Ibrahim Ferrer faleceu sábado, em Cuba, regressado de mais uma digressão europeia. Tinha 78 anos e foi há uma década que voltou a cantar, quando ganhava a vida a engraixar sapatos. Graças a Ry Cooder, um produtor americano que em 1997 juntou velhas glórias dos anos 50 da musica cubana em Buena Vista Social Club, num disco onde se juntou jazz, mambo, boleros e son (o género cubano). Do disco, e do filme de Wim Wenders, sairam nomes como Ruben Gonzalles (eximio pianista), Compay Segundo (guitarrista) e Férrer.

Férrer andava sempre de boné de pala, com pinta de ser tão velho como o dono. Quando cantava a boca quase não se mexia, que os boleros cantam-se baixo e em sussurro.. O boné deixou de cantar, mas as ruas de Havana, as mulheres e a bebida permanecem. Ferrer era como o disco: para ouvir ao fim da tarde, tão antiquado como requintado... que embala a alma, docemente.

'excerto do artigo do público de hoje