há uma actividade completamente incompreendida entre os adultos. chama-se adormecer.
adormecer não é deitar numa cama, numa espera ansiosa que o sono nos chegue e nos faça acordar noutro dia. adormecer, saber adormecer, é quase uma arte e um momento de enorme prazer.
adormecer-se a ler um livro numa luta interminável contra os olhos, que se fecham quando queremos acabar aquela frase pela décima vez. adormecer-se embalado por uma música, com o quarto a meia luz, a conversar frases sem sentido com quem se gosta..
mas adormecer fora do quarto, o local suposto, é ainda uma arte maior.
adormecer num sofá, com o som da musica ao fundo, ou de um filme que se arrasta, em que vamos perdendo o fio da história. os olhos vão fechando e o sono apodera-se lentamente do que resta de nós. até que algumas horas depois acordamos entre o frio e a preguiça de percorrer o pequeno caminho até ao quarto, onde a cama, grande e espaçosa, nos espera o corpo torcido. o perfeito, é juntar à cena anterior, um copo de vinho do porto moderadamente aquecido, e uma lareira, com o fogo a estalar..