:: pequenas boas mentiras

setembro 28, 2013



na vida ganhei um hábito, que, apesar da luta, ainda me sai automático algumas vezes: as pequenas boas mentiras. aquelas mentirinhas que usamos quando - para não magoar, chatear, ou simplesmente preocupar quem gostamos -, tentamos esconder, disfarçar, ou simplesmente ocultar pequenos gestos, ou factos que são mais difíceis de consensualizar. não é enganar, porque não estamos a fazer nada de mal, mas apenas porque assim (nos) poupamos uma conversa chata e dúbia. a pequena boa mentira mais famosa é a 'dor da cabeça' das mulheres quando não estão viradas para o lado carnal e simplesmente não apetece explicar o porquê. a segunda, ainda das mulheres é o 'não tenho nada' - embora aqui seja mais um alerta do que uma mentira. a pequena boa mentira entre familiares normalmente tem a ver com saúde: dizemos sempre que não temos nada de especial, quando afinal ja sabemos que estávamos mesmo doentes.

mas as pequenas boas mentiras têm em si uma boa intenção: não magoar quem gostamos. aquela ilusão do 'para quê preocupá-lo, se tudo se vai resolver'. o problema é que isto só funciona quando estas mentiras respeitam duas regras:
i/ sao pequenas. isto é, não se trata de nada de grave, de uma traição, de uma falha de personalidade, de uma mentira insuportável. nada que, se soubesse, pusesse em causa o quer que seja. são apenas pequenos detalhes do dia a dia que podem passar sem chatear ninguém.
ii/ serem mesmo boas. porque quando sao más mentiras, rapidamente se apanha a verdade, e aí, entramos num campo muito estranho, da falta de confiança, de dúvida permanente, que mina qualquer relação a longo-prazo.

para quem, como eu, passou anos a dizer pequenas boas mentiras, é muito fácil detectá-las nas pessoas que nos rodeiam. basta sabermos que podem existir, e que aquele momento será propício: aquelas situações em que já sabemos que, mesmo sem fazer nada de mal, alguém nos pode magoar e vai evitar, na boa fé, dizer-nos. nesses momentos, ficamos com o radar ligado, e a qualquer declaração suspeita, questionamos e vamos verificar, mesmo quando não devíamos. e depois, dói, magoa nas entranhas, perceber que era mesmo mentira. pequena, porque não foi uma falha. boa, porque a ideia era proteger-mos. mas mesmo assim uma mentira. que quebra a confiança, que quebra a certeza. ou não.. porque como dizia a mais frontal - e acertada - das minhas amigas: - ouve lá meu idiota, passaste a vida a dizer pequenas boas mentiras, e não é por isso que não és uma boa pessoa!!
e pronto, é isto. passar à frente com um pequeno bom perdão. porque quando somos tão iguais, conhecemos tudo. até as pequenas - doces - boas mentiras..

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