:: outono ao sul

outubro 04, 2013

tenho a mania de fazer as coisas fora de época, contra a corrente.
musicas, livros, filmes, gosto de ser eu a descobri-los quando ainda são anónimos. quando já todos os conhecem, perco o interesse. o mesmo com os sítios onde me divirto: cafés, esplanadas, praias, castelos, todos os cantos das cidades.. gosto quando são só meus e de mais poucos alguns. quando se enchem, ficam desinteressantes. talvez por causa deste vicio, gosto mais do Algarve nestes primeiros dias de outubro. dia de semana, meia-noite, sair de lisboa com chuva cinzenta e ir descendo rumo ao sul noite dentro: viagem única. primeiro a chuva parou. ali por Alcácer ja se viam as estrelas no céu limpo. mais abaixo em Grândola, aquele cheiro da planície quente alentejana. a chegar ao Algarve, já de janela aberta, passa a brisa de cheiro a maresia.

acordar no dia seguinte e ver o sol a brilhar no mar. o som calmo das ondas, o areal imenso vazio. a espreguiçadeira na primeira fila, sem vizinhos, sem miúdos aos pulos, sem gente a falar alto. só o mar, o silencio, algumas pessoas a caminhar, devagar. turistas, ninguém fala português. passar o dia em silencio, trocar palavras curtas, mas simpáticas, com o nadador salvador:
- 23 graus a agua? ja viu os dias que apanhou?
já vi sim, apanho sempre. os primeiros de outubro sempre assim. voltar a vestir as camisas de linho, andar descalço, tomar banhos de horas na água do mar, mais quente que o ar da praia. na esplanada, sobre o areal, vazia, a musica agora ouve-se, os empregados sao mais simpáticos, e as amêijoas, ainda com sabor a verão, comem-se mais lentas.

e ao fim do dia o pôr-do-sol. que no outono é diferente, mais vermelho, mais intenso, mais raro - e lá esta, por isso, por ser mais raro -, mais saboroso. estes dias da primeira semana de outubro sao um dos melhores segredos do Algarve. limpeza de alma, começar assim o outono.
trocar as estações, troca os sentidos, e limpa a cabeça quadrada das marcações do calendário oficial. faz nos carregar energias quando os outros ja as consomem desenfreados. vantagem competitiva. mas amanha já é sábado. a praia vai ter mais gente, mais pessoas, menos espaço. está na hora de partir, com as baterias carregadas e o brilho na pele do bronze de outono.
mais intenso, mais raro, e por isso, mais saboroso..

2 comments

FOLLOWERS