:: lee fields, o bom sacana

julho 23, 2013



Lee Fields, marca registada, a fazer soul desde 1969, cedo nos impressionou com a sua capacidade quase olímpica de ginasticar tanto a voz quanto o corpo. não consigo deixar de matutar no facto de ser alguém com mais de 60 anos a dizer-me, a mim e a outros com idade para ser seus netos, "que comece a festa". o mundo deve estar virado do avesso.
sobressaía cada vez mais a discrepância entre o termómetro de Oeiras e o termómetro do artista afro-americano. tornou-se algo caricato observar, em simultâneo, uma multidão constantemente à procura de agasalho e um Lee Fields a livrar-se do casaco quase em jeito desesperado. talvez ele estivesse a sentir o amor doutra forma. de uma forma que (quase) mais ninguém ali conseguiu sentir..

o certo é que foi sob o signo ininterrupto desse amor que aquele concerto decorreu. tanto que o tema "Ladies" foi singelamente dedicado a todas as mulheres, em especial àquelas que ali estavam.
Lee Fields mostrou dominar na perfeição os dialetos do engate.
sejamos realistas: não é qualquer sexagenário que se vira para várias mulheres portuguesas e diz "não sei o vosso nome mas o vosso homem deve estar satisfeito".
mas atenção!, os dialetos que este senhor fala estão a milhas de distância do piropozinho que vem dos andaimes. não confundamos uma serenata reverente com um ritual de acasalamento sobranceiro e asqueroso. além de colocar sempre a mulher num pedestal, Lee Fields não escondeu o seu âmago exercitado, a sua sensibilidade antropocêntrica e o seu lado mais introspectivo.
quando se alia a rouquidão magnânima de um timbre que não cabe nas colunas do palco à perfeição técnica dos The Expressions, o resultado só pode ser um: ovação, ovação, ovação.



texto roubado d'aqui: lee fields fez corar muita gente

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