:: esbardallar

setembro 04, 2013



ESBARDALLAR: deshacer una cosa, una pila o montón de cosas; deshacer un monton de leña picada; espargir os montões de esterco para adubar a terra nos cultivos; desbaratar, desbandar; 
despotricar; hablar sin tasa ni medida. estender, esparcir. decir tonterías y necedades, hablar a tontas y a locas. desbandar, desbaratar. huir en desorden.

tenho para mim uma lei há muitos anos: a dimensão de tudo o que sentimos é relativa à importância do que já vivemos: os problemas, os amores, as angustias, a capacidade de trabalho. por exemplo, se já tivermos organizado uma festa para 500 pessoas, fazê-la para 5 é peanuts. melhor: se já tivermos subido ao everest, subir ali a serra de sintra faz-se com uma perna as costas. assim, sugestão para viver bem, é termos picos de qualquer coisa que nos obrigue a sair da normalidade, qualquer coisa que obrigue a sair da tal "caixa", da "zona de conforto, para que, quando voltarmos, tudo pareça mais simples, menos dramático e mais leve. e melhor de viver.

por isso, esbardalhar-nos de vez em quando, dá saúde e faz crescer.
esbardalhar, ao contrário do que dizem os dicionários, não é uma queda no chão. é antes uma quase queda: é aquele momento em que sabemos que podemos baixar os braços, dizer as maiores parvoíces, rir de tudo, discutir do nada, dizer só por dizer, andar só por andar. basicamente em que fazemos o que nos dá na real gana, só porque sim. mas, atenção, porque sabemos que podemos cair ali, onde nunca vamos chegar ao chão. no máximo um arranhãozito, daqueles que tem história engraçada para contar.
esbardalhar é fazer quase-merda: é beber demais noite dentro, é dançar até torcer o pé, é correr descalço na rua, é discutir à chuva, é chamar nomes, atirar com um balde de água e dizer aos gritos que "nunca mais te quero ver"e a seguir rebentar a chorar a pedir desculpa. é não dormir, não deitar, não falar. é andar de carro sem destino, é ir a praia às quatro da manhã, ir ao mercado antes de abrir e subir o muro do museu depois dele fechar. fazer quase-merda. só porque sim.

está bom de ver que esbardalhar assiduamente com quem amamos é tipo limpeza vernácula. como dizem os galegos "espargir os montões de esterco para adubar a terra nos cultivos".
é aquele momento em que dizemos tudo: o cíume que temos entalado - mas que se diz na brincadeira; a raiva que ficou retida por algum gesto mal pensado - mas que se diz com carinho; as perguntas que não sabíamos em que contexto fazer - mas que encaixam logo na frase mais simples; a palavra amor que ainda não tínhamos coragem de dizer - mas que sai solta a 200 - "amo-te estúpida!"..; ou aquele poema lamechas - mas que por entre lágrimas e ruas escuras, até parece cena de filme. esbardalhar é pôr a merda cá fora, soltar, limpar a alma e as palavras guardadas, mas num contexto de brincadeira, de festa, de "tonteria", em que nada se lava a mal, quase noite de carnaval da relação.
tenho tido esbardalhanços notáveis, uns mais sérios, mas também por isso com um efeito limpeza maior, outros, os melhores, mais divertidos, em que de repente se olha para o relógio e se diz: o quê, já!? mas que se continua o "já" noite dentro, manhã dentro, dia dentro. fazer uma directa a esbardalhar tem um efeito notável no dia a seguir: nunca sabemos se o corpo dormente é da falta de sono ou da felicidade extrema. uma coisa é certa, a normalidade dos dias seguintes é bem mais saborosa de viver..

1 comments

FOLLOWERS