:: dar-me

dezembro 29, 2013


a semana entre o natal e o ano novo é das mais calmas e reconfortantes do ano. andamos todos mais devagar, metade da cidade de férias, vemos a família, estamos sempre mais perto dos amigos. parece que tudo corre num ritmo mais calmo e mais sereno. por contraste, os dias antes do natal cada vez me irritam mais. a correria pelos presentes torna a época uma desenfreada loucura entre jantares, lojas e viagens. pior, é a contabilidade das prendas: damos porque também nos dão, ou porque temos de dar, ou porque todos vão dar.. whatever. a mim, que gosto de simplesmente dar, agradeço cada vez que não recebo nada em troca. porque a troca, em si, estraga toda a intenção. aliás o que gosto mesmo é dar quando não é suposto. sem qualquer motivo aparente, apenas porque me apetece.

mas mais que o gesto, importa verdadeiramente o conteúdo. para mim, são três motivos que me fazem oferecer alguma coisa: saber que quem vai receber a prenda quer muito aquilo (e aqui entram todos os sapatos no caso feminino); ou, poder partilhar algo que gostei muito - um filme, um livro, um sítio - com alguém que sei que também vai gostar; ou, por último, o mais importante - dar algo que represente o que me liga a essa pessoa. podem ser ofertas mais simples, ou mais elaboradas, mas que fixem sempre na memória algum momento, intenção ou decisão da vida. pode ser um fio, se tiver uma medalha com os nossos nomes, pode ser um livro, se tiver aquele texto que nos ligou, pode ser uma viagem, se significar algo que foi, ou vai ser, memorável.

importante no meio de tudo isto é saber escolher o momento certo para dar. sim, porque na maioria das vezes o melhor presente do mundo, entregue na altura errada, não faz sequer sentido. assim, por mais frio e calculista que possa parecer, os presentes a sério devem ter um tempo muito bem pensado. por exemplo, quando nos damos a alguém, temos de saber marcar o ritmo. perceber que do outro lado, por mais que se queira, ou se anseie pela oferta, nem sempre a vida, a cabeça, ou até o coração estão prontos, ou com tempo, ou com espaço para receber.
dar, não coisas, mas nós próprios, não é tão simples como parece. não basta entregar tudo e dizer: toma lá e aproveita - isto sou eu todo para ti. não. não é inundar o outro de provas de amor e carinho. pelo contrário, é ter o esforço, a paciência e a compreensão para saber dar na medida certa do que a outra pessoa pode receber. e aí sim, estamos a dar, não tudo, mas o melhor de nós..

1 comments

  1. Finalmente atualização ;)

    Nasceste em Julho? A atenção mais do que às coisas, aos detalhes, simbolismo e coração que há nas coisas, é de quem nasceu em Julho.

    E o último parágrafo é de todos os meses: é de uma maturidade e capacidade de amor imensas.

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