:: Ti' Aristides
fevereiro 17, 2014
o ti'Aristides era o homem mais charmoso da rua de baixo. casanova reformado, sempre de fato, o chapéu azevedo na cabeça, e o jornal do dia debaixo do braço, enquanto exibia com orgulho o seu calhambeque preto, com os cromados de brilho inatacável. o ti'Aristides era um daqueles marialvas puros, a espalhar simpatia e classe, com aquela serenidade de quem já viveu uma vida que dava um filme: estudou demoradamente em Coimbra, famoso pelas suas serenatas, os seus mil romances e a poesia que declamava num canto secreto do Jardim da Sereia. mais tarde emigrou para Porto Amélia, em Moçambique, onde foi secretário-geral da Câmara da Beira. um dia, reformou-se e voltou para a pequena aldeia, junto dos sete irmãos, acompanhado da paixão da sua vida, mas sempre com aquele toque doce de bon vivant eterno.
não sei se pelo meu riso safado, se pelas bochechas gordas, ou por ser uma criança dada a carros e motas, um dos passatempos do ti'Aristides era passar à porta de minha casa, apitar o calhambeque e levar-me nos seus passeios até à vila. lembro-me de como me inchava o peito quando entrava para o estofo de cabedal preto, a porta que abria ao contrário, e ficava ali, do alto do calhambeque, a ver a estrada, a ouvir a cassete do roberto carlos, e a comer os rebuçados do saco de papel. não me lembro do que falávamos, mas não devia ser coisa boa. aliás, ficou famosa a história da namorada que o ti'Aristides me arranjou: a Carla, a vizinha da casa da frente, que me destroçou o coração, quando partiu para 'a França', quando eu tinha 4 anos.. claro está que eu, romântico precoce, consegui eternizar a namoradinha, quando convenci os meus pais a darem o nome dela à minha irmã. e a Carla assim ficou para a vida na família.
o ti'Aristides partiu cedo e penso que nem me soube despedir dele. mas lá no fundo, acho que ele nunca se despediu de mim. raio do homem encarnou numa das minhas costelas. deu-me este fogo de viver de coração aberto, e aproveitar cada raio de sol com a alegria tonta de quem vive, não para o prazer, mas pelo prazer. esta fixação pelo antigo (retro, diz-se agora), pelo preto e vermelho, esta fixação pela conquista da beleza feminina e pela boa vida. esta paixão e capacidade de entrega aos que amo, sem olhar a meios ou receios.. obrigado, meu Tio!!
não sei se pelo meu riso safado, se pelas bochechas gordas, ou por ser uma criança dada a carros e motas, um dos passatempos do ti'Aristides era passar à porta de minha casa, apitar o calhambeque e levar-me nos seus passeios até à vila. lembro-me de como me inchava o peito quando entrava para o estofo de cabedal preto, a porta que abria ao contrário, e ficava ali, do alto do calhambeque, a ver a estrada, a ouvir a cassete do roberto carlos, e a comer os rebuçados do saco de papel. não me lembro do que falávamos, mas não devia ser coisa boa. aliás, ficou famosa a história da namorada que o ti'Aristides me arranjou: a Carla, a vizinha da casa da frente, que me destroçou o coração, quando partiu para 'a França', quando eu tinha 4 anos.. claro está que eu, romântico precoce, consegui eternizar a namoradinha, quando convenci os meus pais a darem o nome dela à minha irmã. e a Carla assim ficou para a vida na família.
o ti'Aristides partiu cedo e penso que nem me soube despedir dele. mas lá no fundo, acho que ele nunca se despediu de mim. raio do homem encarnou numa das minhas costelas. deu-me este fogo de viver de coração aberto, e aproveitar cada raio de sol com a alegria tonta de quem vive, não para o prazer, mas pelo prazer. esta fixação pelo antigo (retro, diz-se agora), pelo preto e vermelho, esta fixação pela conquista da beleza feminina e pela boa vida. esta paixão e capacidade de entrega aos que amo, sem olhar a meios ou receios.. obrigado, meu Tio!!
ps: há pouco tempo descobri que o calhambeque do ti'Arstides ainda existe. estava a servir numa empresa de eventos: transportava os noivos.. só podia - eterno romântico. mas disse bem, estava. porque em breve, vai voltar ao seu justo herdeiro: eu.
e já sonho com o dia em que vou levar o meu broto a passear até a vila, com a cassete do roberto carlos e uns rebuçados no saco de papel..
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