:: um problema de dor

fevereiro 03, 2014



"eu não tenho um problema de gestão de dor. eu tenho um problema de dor." (Gregory House)

quando se gosta em demasia - e gosta-se sempre assim nas histórias verdadeiramente puras -, não há maneira de não sentir dor. só quem não sente, quem não se dá, quem não se aproxima dos outros não vai ter dor. com a idade vamos aprendendo a defender-nos desta coisa, mas assim vamos também limitando o tamanho e a alegria das brincadeiras. quando somos crianças, não temos medo: sabemos que vamos cair, que vamos esfolar o joelho, eventualmente partir um braço ou uns dentes. mas, who cares? o que interessa é mesmo brincar desenfreadamente. até que a noite chegue e o sono nos vença a rebeldia. quem não se lembra de aterrar deitado, exausto depois de um dia bom de brincadeiras.. sono mais feliz.

eu não tenho um problema de gestão de dor: porque simplesmente não a quero gerir. gerir a dor é matar todo o sentimento que possa daí nascer. fugir da dor é matar à nascença a maior das paixões. porque não tenham dúvidas: elas fazem feridas, elas ardem, elas lixam-nos a cabeça, estragam-nos os dias, viram a vida de pernas ao ar. mas, who cares? elas, as paixões, incham-nos o peito, fazem-nos maiores pessoas, melhores pessoas. porque levamos ao limite as nossas capacidades. esticam as nossas qualidades e os nossos defeitos. somos sempre mais quando estamos apaixonados: mais loucos, mais estúpidos, mais felizes, mais idiotas. mais nós. quando ouço alguém dizer que temos de gerir como nos envolvemos, é como se me atirassem um balde de merda na cara. porque no momento em que se consegue gerir o que se gosta.. é também o momento em que se deixou de gostar.

eu tenho um problema de dor. permanente. porque quero sempre mais, quero agora, quero tudo a que tenho direito. e já. mas a vida é assim: irónica. na maior parte das vezes junta-nos com as pessoas certas, no momento errado. too soon, or too late. será? nunca saberemos. porque somos nós que fazemos o nosso tempo. somos nós que o fazemos certo ou errado. somos nós que fazemos o cedo ou tarde. e não adianta perguntar, nem querer saber já se é este o caminho. porque não há problema em não saber todas as respostas. o desafio da vida é mesmo não sabê-las. é essa dúvida que traz a adrenalina das paixões loucas. dói? dói. magoa? magoa. mas, who cares? as respostas hão-de sempre chegar, às vezes quando menos se espera. e até lá, sabe bem? muito. és feliz? demais. então vai, aproveita o dia como se fosses uma criança. a dor é má? não, a dor é linda. porque não é a dor triste de não encontrar quem se quer, não é a dor da frustração de não saber o que se quer. é a outra dor, a boa: a de saber que subimos ao ponto mais alto sem medo da queda. que entregamos tudo, mesmo com o risco de perder tudo. que damos o melhor de nós, mesmo com uma venda nos olhos: como se estivéssemos a brincar num quarto escuro, de mão dadas, abraçados, mas sempre aos trambulhões, a tropeçar nos móveis, a cair entre gargalhadas e dentes partidos.. dói? não. ama-se.

4 comments

  1. Tao bom quando se encontra alguém que sabe amar assim. :)

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  2. Anónimo5.2.14

    A cada dia gosto mais das tuas partilhas.
    Não consigo ver a banda sonora que escolheste. O Frank já dizia "when somebody loves you it's no good unless he loves you all the way ".

    Luísa

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  3. Anónimo6.3.14

    Estou de "queixo caído"..a adorar este cantinho que so agora descobri,,que forma fantastica de tao bem dizer,,de tao usar as palavras essas que amo de paixao,,,parabens..Aplaudo de pé este texto..!!!

    Fantastico mesmo..!!

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  4. ☺ é isto sim.

    No entretanto, tenho andado afastada de dores. Tanto das más como das boas. Acredito que é porque ainda não despertou em mim de novo a dor boa. Lá chegarei. Eventualmente.

    Obrigada pela dica até aqui.

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