::: but first, coffee

março 21, 2015



gosto de pessoas 'but first, coffee'. e nem tem tanto a ver com a bebida, mas com o acto em si. o acto de preparar. porque o café (quando é bem bebido) mais do que um vício é isso: uma ante-câmara de qualquer coisa. é o antes do dia começar, é o antes do almoço, é o antes da reunião, é o antes daquela conversa longa. por isso, não gosto de quem vai beber café e se vai embora logo no fim. é como ver um concerto e a seguir ir domir - tédio! um café, como uma música, não é um fim, mas o arranque de qualquer coisa. ou melhor, o motivo para qualquer coisa começar. como naquele primeiro convite que te fiz: 'vai mais cedo ao jantar de logo, e bebemos um café só nós dois, antes dos outros chegarem'.. que bom princípio.

nos dias, é sempre pelo café que começo. de preferência, ainda em casa, chávena grande, feito na máquina de filtro. além do cheiro que fica no ar, é a pausa antes da corrida que ajuda a centrar. planeia-se o trajecto, põe-se em perspectiva. ou apenas acorda-se. no trabalho, é essencial antes de cada reunião: um café, versão italiana, shot de cafeína para acelerar. aqueles dois minutos, em que se prepara a cabeça para o trabalho da próxima meia-hora. rápido e produtivo. ao fim do dia, o café com os amigos. não dos com pressa, tipo 'diz-me aí rápido como foi o dia', mas daqueles tradição antiga, do café central, em que nos sentamos, lemos o jornal, falamos do vizinho e das histórias eternas. daqueles cafés de mesas que se vão enchendo sem ninguém combinar. não é preciso. já sabemos que alguém lá vai estar naquela hora.

e os nossos cafés? são os mais memoráveis. ritual de iniciação, é sempre a primeira tarefa quando se chega a casa. ligar a máquina, pôr a música acertada com o espírito do dia, e apenas ficar. primeiro à espera do café se fazer, depois a bebê-lo demoradamente, sem horário, sentados no balcão da cozinha, roupa de casa, pés descalços que se vão tocando. gosto de te servir o café, enquanto falas rabugenta do dia. depois falo eu, enquanto mexes o açúcar. medida certa: 1 colher para mim, 2 e meia para ti. o sabor quente na chávena preta, e o teu olhar, ali em frente, a ficar mais sossegado. digo umas parvoíces e já sorris. levanto-me, e abraço-te de leve num beijo lento, com a minha mão na tua cintura, a dizer que te quer. volto ao lugar e ali ficamos a passar mais um bocado de dia. ritual do café. nosso, simples. perfeito.


1 comments

  1. Adoro café e adorei este texto delicioso. Também, para mim, o acto de beber café é quase um ritual... dos bons. E que não prescindo. :)

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