:: as fotos. nossas.

março 08, 2015



sou viciado em imagens. em memórias fotográficas. por isso dou tanta importância ao cenário, aos pequenos detalhes de cada momento: a intensidade da luz, a música que se ouve, a vista que se vê, as cores de fundo de um canto da casa. ou, por oposto, deslumbram-me sempre as imagens de imensidão: emociono-me com cada pôr-do-sol, com cada lua cheia, com cada praia vazia. mistura dos dois, o vício bom de dormir de janela aberta, apenas para poder acordar com o sol torrado, a nascer lá ao longe, no limite do horizonte. a luz entra lentamente pelo quarto, primeiro as paredes amarelas, depois bate na cara, ainda na cama, quase cega, mas sente-se aquele calor bom. e fica perfeita, a fotografia do brilho do sol, a nascer na pele do lado..

mas o melhor de saber ver assim o mundo, é partilhá-lo com quem me entende, com quem me sente em cada foto. partilhá-lo com quem me vive, onde quer que esteja, quando vê as mesmas imagens. é essa a perfeição da coisa: a partilha da emoção. ou, mais bonito, quando se vê esta beleza no outro, na imagem do outro. por isso sou viciado em olhar. aquele vestido curto, aquelas calças que moldam o corpo, aquele pedaço de ombro sempre à mostra, aquele salto que faz a curva perfeita do pé. ou, menos carnal, quando se tira a fotografia mental de uns olhos fixos em nós, de brilho fundo e pestanas fortes - parecem que sorriem. ou, único, aqueles momentos de paragem de pensamento, em que ficamos a ver, quase filme mudo, os lábios de quem gostamos a mexerem-se, enquanto falam para nós - parece que amam.

por isso gosto tanto das nossas fotos. em especial das que guardo na memória. porque fizemos muito, dissemos mais, sorrimos tanto, mas há imagens, há momentos, há fracções de segundo, que já valeram por uma vida. e para a vida guardei-as em mim. porque é aí, nesse milésimo de minuto, que se distingue quem se ama - sintonia difícil, mas que diz tudo: quando, apesar de verem a partir de dois olhares diferentes, duas pessoas vivem na mesma fotografia. e, ironia, só se tem a certeza de tudo, quando a imagem que mais procuramos é a mais simples, a menos elaborada, mas, por isso, também a mais verdadeira. por exemplo, apenas o teu corpo, nu, descansado, a espreguiçar-se pela manhã. aquele momento em que te viras para mim, de olho ainda meio aberto, me dizes bom dia, e voltas a adormecer mais uns segundos, no meu peito.. a vida podia parar ali. 

4 comments

  1. das duas uma: ou estás perdidamente apaixonado ou és apaixonado. uma não é condição para a outra, mas ambas podem coexistir, será até o ideal.

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  2. Raquel9.3.15

    Adoro adoro adoro :) felicidades, "todo João tem a sua Joana" :p

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  3. Também eu sou viciada em imagens sejam elas fotográficas ou descritivas, e estas que aqui encontro são de tirar o fôlego.
    "pudera eu escrever assim..."
    Adoro.

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  4. Cláudia M11.3.15

    Obrigada, por nos fazer sorrir, com os seus textos fantásticos ;)
    Adoro a sensibilidade com que escreve.

    Beijinho

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