:: casa no campo

março 29, 2012



uma das coisas que me sinto sortudo é por tudo o que já vivi. mais que coisas que tive, que sitios que visitei, mais que grandes feitos, são as coisas pequenas que me fazem grande a vida. e uma delas é ter nascido numa aldeia pequena. tão grande. a Póvoa tem quatro estradas e um cruzeiro que as junta numa cruz. tem o café da fonte, a mercearia do nuno, e o clube. e muitos primos. quase todos. daquelas aldeias em que todos se conhecem pelo nome, pelo apelido do pai, pela alcunha do avô. tem bailes e imigrantes nas noites de verão, tem céu estrelado o ano todo, e um cheiro quente a fumo de lareira, nas noites frias do inverno. e tem a minha casa. no campo.

a minha pequena casa do campo é linda. paredes brancas, janelas de madeira, muita calçada, um portão com o nome da familia, e um relvado feito jardim. uma nogueira já de três gerações, árvore forte, que marca os genes. a minha casa do campo tem sempre amigos e porta aberta. muita música, petiscadas e vinho noite dentro. tem dois cães gigantes, loucos e desobedientes, como os bons tem de ser - carinho permanente. tem sempre alguém que entra sem perguntar se pode. porque as portas não tem campainha: chama-se de voz alta, já dentro de casa. tem família. sangue do meu sangue. tem a ti'Linita, vizinha do lado, mulher de luto preto, mas sempre de sorriso pronto. e tem a ti'Dete, pura e forte, sempre a guiar o seu tractor. a avó eterna..
 
a minha casa do campo, não é minha. é dos meus. de todos os que sabem lá fazer a casa deles. já foi dos meus avós, é dos meus pais (obrigado) e há-de ser dos meus netos. imagem bonita, imagiá-los a correr por ali, crianças tontas a abusar do meu reumatismo. e tu - basta uma árvore, uma rede, um relvado, uma toalha estendida, um sol quente e paramos ali. no nosso pequeno grande mundo. a nossa casa do campo tem um pôr-do-sol no horizonte, por cima das vinhas lá em baixo. tão simples.


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