:: a fé

fevereiro 07, 2012



' tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida.
estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. e também com a família e com os amigos. esperando o pior, mas confiando no melhor. seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.'
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de entre as perdas de pessoas na minha vida, as que mais me doeram, pelo inesperado, foram pessoas de fé. de muita fé. partidas injustas, imerecidas. para quem foi - cedo demais. para quem ficou - desamparado, sozinho demais. nesses momento questiona-se sempre o Deus que não as protegeu, que não as tratou como deviam. o Deus que tanto adoravam.

eu, me confesso, especialmente nesses momentos, não sou um homem de fé n'Ele. sou mais da fé nos actos. nas atitudes, nos gestos. acredito pouco no que se murmura, no que se promete, no que se penetencia. acredito mais no que se faz, no que se dá, no que se entrega. acredito mais nos homens, que nos Deuses. acredito mais no Amor, do que na adoração.
a fé que sempre me fez correr foi o sorriso no rosto do próximo. foi o carinho sentido, a ternura partilhada. a ajuda entregue. não a piedade, a misericórdia ou o sofrimento em nome de alguém que não está sequer presente.

mas, por mais paradoxal que seja, foi a fé destas pessoas que partiram - no momento em que partiram - , que me fizeram acreditar em algo superior. a paz que sei que cada uma teve. a pureza como sempre enfrentaram o destino, inesperado. a forma como sempre deram a cara à luta. só pessoas com uma fé tremenda conseguem ser assim. tão puras e com tanta força. que tinha de vir de algum lado mais espiritual que físico. provavelmente da mesma fonte do sentimento, inconsciente, que me indicou o exacto momento em que devia despedir-me. que numa ocasião me fez não voltar atrás para ter uma discussão sobre coisas mundanas e me deixou assim um riso como a ultima recordação. e que noutra ocasião me fez, sem tempo, contra as pressas de todos, desviar do caminho cinco minutos, e me deixou assim um sorriso. como ultima recordação.
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/*/ excerto da última crónica de Maria José Nogueira Pinto

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