:: dar-me

março 29, 2013



às vezes, para onde damos, recebemos a dobrar.
mas por serem raras essas vezes, por ser tão novidade, ficamos meio perdidos quando isso acontece. porque não estamos preparados. porque o hábito é dar, e dar, e insistir. porque o hábito, feito vício, é pensar sempre em mais uma surpresa, em mais uma vontade, em mais um pequeno presente. daqueles que nos dizem tanto, não pelo valor que tem, mas pelo carinho com que foram pensados. e ficamos felizes, pelo simples prazer de entregar. contentes que nem miúdos, pelo brilho que criamos no outro. chega até a ser uma forma estranha de egoísmo: damos, porque queremos sentir no outro o nosso impacto - aquele prazer único quando alguém se emociona com o que lhe partilhamos.

mas de repente - porque quando é a sério, é sempre de repente -, o destino prega-nos partidas. e onde só dávamos, num segundo, recebemos também. naquele momento em que pensamos uma surpresa, e do outro lado já a sabiam: porque já a tinham pensado igual. não porque se adivinhou, em jeito de jogo, mas pelo contrário, porque, instintivamente, tambem se desejou o mesmo. um diz vamos ao mar e outro já tinha escolhido a praia. um diz vamos caminhar descalços na calçada e o outro já tinha tirado os sapatos. um diz dá-me um abraço, e o outro já tinha abraçado naquele exacto momento. e sabe bem, sabe tão bem, perceber que alguém nos quer, pelo menos de forma tão bonita como nós a desejamos. perceber que afinal, receber, é algo que também nos faz feliz. e completos.

porque é um momento perfeito, quando duas pessoas que "dão" se encontram. é um sentimento de sossego, perceber que afinal não éramos loucos, nem intrépidos demais, nem entregues demais. quando se encontra quem "dá" na mesma medida, sente-se aquele alívio de saber que afinal somos normais. que dar sempre mais, não é ser exagerado - é ser apaixonado. que ir à luta de peito cheio, não é ser louco, é ser destemido. que viver uma vida num só dia, não é sonho - é realidade. das boas. é tão estranho, conseguir ler tão bem quem faz igual o tamanho do gesto, quem faz igual o tamanho da vontade. tão estranho, perceber que é o teu sorriso, não porque te dou, mas quando me ofereces o teu carinho, que afinal me deixa completo.


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