:: domingo dos outros

junho 28, 2010




ao domingo, acordo a pensar que tenho de ir para outro lado.
ao domingo, acordo e penso que, quase sempre, o lado para onde tenho de ir é o mesmo de onde vim ainda há bocado.
ao domingo, ando de um lado para o outro sem sair do mesmo lugar. depois, quando consigo, passo a noite de domingo a sonhar com outros lados onde não estive, ou quero estar, ou sei que um dia vou estar. os domingos cansam-me.

ao domingo o meu café está fechado, a rosário não abriu o quiosque dos jornais,
o jardim - apesar do bom tempo - está às moscas.
ao domingo não há correria para o trabalho,
as notícias nos telejornais são, ainda assim, menos patetas que nos dias de semana.
aos domingos há BBC Vida Selvagem, NGM, 60 minutos e anatomia em pacote.
aos domingos podemos observar as ruas sem trânsito e reparar nos edifícios, no céu, nas árvores..

ao domingo
podemos parar para pensar, não pensar, dormir, não dormir, ler, não ler, ouvir música, não ouvir. podemos fazer o que nos der na telha sem dependermos do tempo ocupado dos outros dias da semana. aos domingos, e isto é o mais importante, a segunda-feira é só no dia a seguir e dizemos: já amanhã? ..e suspiramos aliviados: só amanhã!
 

ah, e ao domingo, sempre aquela eterna sensação de que não fizemos os trabalhos de casa..

'excertos retirados d'aqui

:: scat singing

junho 24, 2010



' in vocal jazz, scat singing is vocal improvisation with random vocables and nonsense syllables or without words at all. scat singing gives singers the ability to sing improvised melodies and rhythms, to create the equivalent of an instrumental solo using their voice. the melodic lines are often variations on scale, arpeggio fragments and riffs..

gosto de scatear. falar sobre nada e tudo, improvisar, lançar a rede, defender uma causa, mesmo sem ter pensado nela antes, sonhar alto. conversar sobre sonhos, no exacto momento em que os imaginamos é um êxtase intelectual. quase um hemorragia criativa. seja no campo profissional ou na vida pessoal, gosto de improvisar ideias no momento. normalmente corre bem. aliás é quando aparecem as melhores, em plena adrenalina da conversa.
perfeito mesmo é quando os parceiros da conversa nos acompanham:
- quando a orquestra também entra no improviso, salta para o palco, apoio o solo
e ainda acrescenta mais umas ideias idiotamente brutais!


' in wikipedia


:: carvalhal

junho 11, 2010


'agora que o calor começa a devolver-nos à praia, é boa altura para lembrar o melhor bar de praia que alguma vez conheci em Portugal. foi destruído pela inveja autárquica no Outono de 2001, dando lugar a uma sucessão de improvisos manhosos e agora, tanto quanto sei, um bar banal sem história. por causa da destruição do bar original, inspirado nos melhores espaços do mesmo género que abundam, por exemplo, no Brasil, muitos frequentadores daquela praia – como era o meu caso – acabaram por abandonar a praia, primeiro, e a região, um pouco mais tarde.

era o bar da Maria da Luz, na Praia do Carvalhal (Zambujeira-do-Mar, Odemira). saudades dos finais de tarde naquelas cadeiras, com aquelas bebidas, aquelas sanduíches e saladas, e o meu filho feliz como se estivesse em casa. e estava..


' Pedro Rolo Duarte dixit. paragem obrigatória a caminho de Odeceixe, quando o sudoeste alentejano ainda era segredo.


:: out-of-office

junho 06, 2010



daqui a pouco mais de um mês começa oficialmente a estação das férias. são muitos os que arrumarão as suas secretárias mas que optarão por não se desligarem totalmente do mundo laboral, mantendo os seus smartphones à mão. existem no entanto outros que vão programar respostas "fora do escritório" indicando que só consultarão o email quando regressarem. fico sempre intrigado com estes últimos, pois não consigo perceber qual o seu grau de empenho no trabalho. para que conste sou totalmente a favor de tirar tempo livre e de desligar do mundo do trabalho. mas estou também ciente da necessidade de se responder por vezes rapidamente, especialmente quando as vidas de outros dependem do facto de estarmos actualizados e em contacto.

é por isso que estas mensagens "fora do escritório" não estão em sintonia com o funcionamento do mundo moderno. estas respostas foram implementadas e usadas como actos passivos-agressivos para demonstrarem a sua independência - não tanto da tecnologia, mas da responsabilidade.
num futuro não muito distante, espero que as publicações médicas estabeleçam uma relação directa entre o uso abusivo destas respostas "fora do escritório" e a tendência para usar fato de treino (sinónimo de quem já desistiu da vida). as pessoas que gostam destas mensagens tendem a ser menos empreendedoras, não funcionam bem em equipa e, em muitos casos, são preguiçosas..


' Tyler Brulê dixit, na outlook/diário económico.

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:: sex &the city revisited

junho 04, 2010



nós, os tipos, temos o james bond (e o ocean's), com carros, gadgets, bond girls e uma missão a cumprir. elas têm Carrie & amigas, roupas, luxos, os Samantha boys e a missão de voltar a casa sem partir os stilettos. ' jornal i

sendo uma visão redutora, tem no entanto a sua piada. eu gosto das duas coisas, as dos tipos, e as d'elas. o ecletismo é sempre positivo. nesta caso, foram 2h30 de um episódio grande demais, numa sala pequena demais. a coisa resulta mais em série que em filme. mas pronto, safam-se as piadas, os terrible two's, a festa do casamento gay, os macarons no deserto, os vestidos, e claro.. os stilettos



:: no more cup cakes

maio 19, 2010



já não posso ver cupcakes à frente. é a loucura: qualquer canto que abra e venda cupcakes tem filas à porta. sejam bons ou maus, desde que tenham cores e um creme vistoso por cima lá vai tudo em minutos. venha de lá o 'sexo e a cidade 2' para importar outra qualquer moda da big apple.

por mim, vou continuar a insistir nos macarons: tem mais pinta, são mais coloridos e menos enjoativos.
as tentativas de fazer aqui por casa é que não tem corrido lá muito bem. a coisa dá trabalho, mas aposto que na próxima tentativa vão sair iguaizinhos a estes.
parfait!!


:: auto-expansão

maio 17, 2010

'os casais podem não se manter juntos por sentimentos de amor ou lealdade. um estudo afirma que o nosso nível de compromisso pode depender da forma como o companheiro melhora a nossa vida e alarga os nossos horizontes: o conceito de auto-expansão'

a teoria é que os casais que exploram novos lugares e experimentam coisas novas, passam por sentimentos de auto-expansão, elevando o nível de compromisso: entramos nas relações porque a outra pessoa se torna parte de nós e isso expande-nos. isto é, a vivência que temos com a outra pessoa faz-nos crescer, conhecer outras perspectivas, perceber outras formas de viver, no fundo, expandir-nos como indivíduos. 

assim, segundo o estudo, os casais devem colocar a si próprios, assiduamente, uma série de questões:
/quanto é que o seu companheiro serve como fonte de experiências excitantes? 
/em quanto é que conhecer o seu companheiro fez de si uma pessoa melhor? 
/quanto é que o seu companheiro a ajudou a expandir as suas próprias capacidades? 

curioso também será fazer o raciocínio contrário, talvez mais altruísta: 
/qual o nosso impacto no companheiro(a), de que forma induzimos essa expansão?..

:: efeito médici

maio 13, 2010


* reflexão de férias: bombay tónico sobre o mar, óculos de sol, e a pele a estalar com sabor salgado.

os Medici foram uma família de banqueiros de Florença que financiavam vários criadores num vasto leque de disciplinas. graças a isso convergiram para Florença escultores, cientistas, poetas, filósofos, mecenas, pintores e arquitectos. a sua convivência e troca de conhecimentos forjaram um novo mundo que ficou conhecido como Renascimento. o efeito Medici exemplifica que quando se cruzam domínios de conhecimento diferentes, disciplinas e culturas distintas, é possível combinar conceitos existentes e criar um grande número de ideias inovadoras, ultrapassando barreiras anteriores.'

suspeito que uma pessoa que domine, cruze e misture várias formas de viver, consegue ser mais completa. que o facto de compreendermos vários assuntos, de estarmos atentos e despertos para as coisas menos óbvias, nos diferentes campos em que nos cruzamos, nos permite experimentar novas e diferentes sensações. suspeito que tenderemos a ser mais criativos, o que nos torna pessoas mais interessantes e, certamente, com uma maior capacidade de andar de bem com a vida. suspeito..


' Frans Johansson


:: estrela michelin

maio 03, 2010



confesso que o primeiro impacto não foi o melhor. a sala histórica, em tom dourado e preto, cativa, mas cria uma formalidade fortalecida pela ementa, onde o preço por prato me pareceu um abuso. mas pronto, lá fomos por uns secretos versão 'cubismo', e um bitoque com gema cremosa a cavalo, na expectativa do que seriam estes pratos tradicionais em versão tavariana.

chegadas as primeiras entradas, os sentidos começaram a funcionar: azeitonas e queijo chevre em tempura. só um estalar dentro da boca que estimulava o paladar. depois os pratos principais: rendição!! uma mistura de sabores conhecidos, mas em versão leve, subtil, com paladar profundo e estendido. para fechar o gelado de canela a dissolver-se com languidez, prolongando o prazer do café.

já convencido que ali a cozinha era realmente uma ciência, chegou a chave de ouro: o chef, pleno de simpatia, fez questão de dar os parabéns ao aniversariante e demoradamente explicar a técnica do prato que começa a ser preparado dois dias antes, entre vácuo a 54º, técnica e qualidade. mais que um jantar, foi um momento de prazer gourmet de excelência. doce presente.


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:: samba sessions

abril 29, 2010



bossa: charme, aquele balanço no ritmo, a leveza de tudo ser poema e brincadeira.
nova: a busca pela novidade, improviso, a oportunidade de refazer, baralhar e voltar a dar. bossanova, o melhor ritmo para estes dias de pause, forward & re-start
0 'samba de uma nota só', do tom jobim, é o culminar da coisa: simples, puro, mas com tudo lá dentro:
'eis aqui este sambinha feito numa nota só, outras notas vão entrar, mas a base é uma só.
quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada, já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada, não deu em nada. e voltei pra minha nota como eu volto pra você.
e quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó, fica sempre sem nenhuma.
conselho: fique numa nota só.'


* bossanova: a palavra bossa apareceu pela primeira vez em '30, num samba onde se cantava: o samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas. a expressão bossa nova passou a ser utilizada para aqueles sambas baseados no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas, num jeito suave e minimalista. já na década de 1950, cresceu fruto de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, em Copacabana. o novo género era corrente no meio universitário- então apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz - , tendo o seu baptismo através de um recado escrito num quadro-negro: amanhã, samba-sessions por uma turma "bossa-nova"


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