:: o click da certeza

janeiro 19, 2014



há dois anos, uma amiga, daquelas gémeas de vida, disse-me que, de repente, num fim-de-semana de férias se tinha apaixonado. achei aquilo prematuro, mas em poucas semanas, entre demonstrações excessivas de paixão, a coisa estava feita: noiva disse-me ela. que tinha esperança que desta vez era por ali o caminho. achei a coisa maluca, mas respeitei, com as minhas reservas, que lhe disse frontalmente. passado 3 meses liga-me, e diz que tem de me contar uma coisa. eu, primo da maya, chutei: estás grávida? e do outro lado entre soluços e emoção, um eufórico "siiimmm!! .. se eu já tinha reservas, fiquei assustado. mas a ouvi-la, e depois a vê-la, percebi - que estas coisas percebem-se -, que ela já não tinha só esperança: ela tinha a certeza daquele caminho.

este click da certeza, é algo que não se explica, é algo que só se aprende quando se vive. por isso, há quem não o entenda nunca. e este click não tem a ver com o tempo que se está com alguém. é ao contrário. se é preciso anos ao lado de alguém para ter esse click, então sim, está tudo errado. aí, é mais o click, do "então seja" e não o do "é isto que eu quero loucamente".
passar da esperança de ter uma vida ao lado de alguém, para a certeza de ser esse alguém, não tem a ver com amor, com o que se gosta, ou com o que se quer. esta passagem de nível, tem mais a ver com a perspectiva com que se olha o outro. é o passar da visão de curto-prazo, para a visão de uma vida. é sair da confusão do dia-a-dia e sentir que pairamos no ar, por cima da luta efémera do quotidiano, e vemos lá ao fundo do horizonte a nossa velhice, juntos.

na esperança, sentimos que vamos ser felizes muitos anos. na certeza, tem-se o sossego de sentir que a procura terminou - não há mais ninguém para encontrar. na esperança, confiamos que aquele é o caminho certo. na certeza, construímos o caminho certo. na esperança fazemos planos degrau a degrau. na certeza, queremos tudo já! na esperança tem-se medo de perder. na certeza, tem-se medo de não conseguir. na esperança, quer-se uma vida cheia de coisas novas. na certeza, quer-se apenas segurar a vida que já se tem. na esperança, espera-se. na certeza, é certo.
na esperança, temos um permanente sobressalto com o futuro. na certeza, temos uma necessidade sôfrega de partilhar o futuro, e entregá-lo no mais bonito que um amor pode ter: uma filha. não por capricho, mas pela certeza que aquela vida vai ser perpetuada para sempre..

ps: v(a), desculpa, por me ter enganado na minha frontalidade. v(i), feliz, por me ter enganado. 

:: what is love?

janeiro 14, 2014



mais do que perceber o que é "amar", sempre me questionei onde começa esse sentimento. muitas pessoas gostam de quem lhe faz feliz, quem as preenche. outras pessoas gostam quando cuidam de alguém: não tanto pelo prazer de receber, mas pela alegria de cuidar. sendo consensual que quando duas pessoas se amam, estes sentimentos - dar e receber - serão recíprocos, já fica a dúvida quando se procura saber onde eles começam. isto é, somos nós que gostamos daquela pessoa, ou amamos pelo que aquela pessoa provoca em nós?

defendo que o que sentimos por alguém começa nesse alguém, e não em nós. mais do que somos e da maneira que gostamos, é o que a outra pessoa é, o que a outra pessoa faz, que nos provoca a reacção. assim, quando se gosta loucamente de alguém, o mérito não será apenas nosso, mas muito mais da capacidade do outro despertar tal loucura na nossa cabeça, coração e afins..
defendo também que estas coisas não são estáticas: não se gosta desde sempre, nem sempre da mesma forma. o que liga duas pessoas resulta de ciclos de vai-e-vem, de causa-efeito. o segredo de uma relação não tem assim a ver com o princípio, mas antes com a capacidade de construir. não tem a ver com o que se sente num determinado momento, mas com a capacidade de re-viver esses laços. de os manter sempre num ciclo crescente, que se repete, às vezes com coisas novas, às vezes com as costumeiras coisas velhas. aquelas já tão nossas, que nos sossegam só de as saber. só de as repetir.

primeiro gostamos do riso do outro, e sorrimos quando nos apresentamos. depois ouvimos tontices e respondemos com parvoíces. a conversa flui, vai e vem, sempre numa alegria parva. depois sentimos um abraço e damos outro, quase resposta. vemos as estrelas juntos e pensamos: ele mexe comigo. ela mexe comigo. passamos noites a cantar, horas a chorar, manhãs a amar. um dia dizes tu que me queres, outro dia digo eu que me tens. porque simplesmente somos um, reflexo do outro.
é ter a certeza que é a tua pele que faz da minha mão tão especial quando te toca, mas que é o carinho da minha mão que te faz tremer a pele. é ter a certeza que é o teu olhar que prende o meu, mas que é o meu olhar que emociona o teu. é ter a certeza que tens o melhor de mim. não só pelo que sou, mas muito mais pelo que me fazes ser..

:: dar-me

dezembro 29, 2013


a semana entre o natal e o ano novo é das mais calmas e reconfortantes do ano. andamos todos mais devagar, metade da cidade de férias, vemos a família, estamos sempre mais perto dos amigos. parece que tudo corre num ritmo mais calmo e mais sereno. por contraste, os dias antes do natal cada vez me irritam mais. a correria pelos presentes torna a época uma desenfreada loucura entre jantares, lojas e viagens. pior, é a contabilidade das prendas: damos porque também nos dão, ou porque temos de dar, ou porque todos vão dar.. whatever. a mim, que gosto de simplesmente dar, agradeço cada vez que não recebo nada em troca. porque a troca, em si, estraga toda a intenção. aliás o que gosto mesmo é dar quando não é suposto. sem qualquer motivo aparente, apenas porque me apetece.

mas mais que o gesto, importa verdadeiramente o conteúdo. para mim, são três motivos que me fazem oferecer alguma coisa: saber que quem vai receber a prenda quer muito aquilo (e aqui entram todos os sapatos no caso feminino); ou, poder partilhar algo que gostei muito - um filme, um livro, um sítio - com alguém que sei que também vai gostar; ou, por último, o mais importante - dar algo que represente o que me liga a essa pessoa. podem ser ofertas mais simples, ou mais elaboradas, mas que fixem sempre na memória algum momento, intenção ou decisão da vida. pode ser um fio, se tiver uma medalha com os nossos nomes, pode ser um livro, se tiver aquele texto que nos ligou, pode ser uma viagem, se significar algo que foi, ou vai ser, memorável.

importante no meio de tudo isto é saber escolher o momento certo para dar. sim, porque na maioria das vezes o melhor presente do mundo, entregue na altura errada, não faz sequer sentido. assim, por mais frio e calculista que possa parecer, os presentes a sério devem ter um tempo muito bem pensado. por exemplo, quando nos damos a alguém, temos de saber marcar o ritmo. perceber que do outro lado, por mais que se queira, ou se anseie pela oferta, nem sempre a vida, a cabeça, ou até o coração estão prontos, ou com tempo, ou com espaço para receber.
dar, não coisas, mas nós próprios, não é tão simples como parece. não basta entregar tudo e dizer: toma lá e aproveita - isto sou eu todo para ti. não. não é inundar o outro de provas de amor e carinho. pelo contrário, é ter o esforço, a paciência e a compreensão para saber dar na medida certa do que a outra pessoa pode receber. e aí sim, estamos a dar, não tudo, mas o melhor de nós..

:: kiss, keep it simple stupid

dezembro 17, 2013


kiss - keep it simple stupid, é uma metodologia muito conhecida pelos engenheiros de software, o truque é partir um problema grande em vários pedaços, para assim os vários problemas pequenos, um de cada vez, até chegarem à solução global. o método também passou para a gestão. simplificando os processos, os problemas resolvem-se mais rapidamente. como as regras são mais flexíveis - feitas por pequenos compartimentos -, é mais fácil melhorar, modificar ou refazer. basicamente é como se tivéssemos um roupeiro com várias pequenas gavetas em vez de um gavetão enorme. é mais fácil arrumar uma pequena gaveta de cada vez, do que puxar o raio do gavetão pesado.

para implementar este método há vários passos a tomar: manter os nossos problemas divididos em pequenas classes; resolver um de cada vez; não ter medo de errar nos pequenos problemas - o que interessa é encontrar a grande solução;  e quando nos deparamos com "exigências" novas temos de ser maleáveis: assumir que elas já lá estavam, nós é que não as vimos, e re-ajustar o modelo.
no meio disto já não sei se estou a falar de engenharia, de gestão, ou da vida em geral. provavelmente de todos. mas, KISS - keep it simple stupid, não se deve traduzir à letra - "simplesmente estúpido"-, mas sim invertendo o sujeito: "estupidamente simples".. grande diferença. é que aqui o estúpido é o maior elogio e não um defeito. olhar o mundo de uma maneira "estupidamente simples" não é fácil. requer muita limpeza na cabecinha, muita auto-confiança, mas em simultâneo muita humildade - porque (truque da mente) para conseguir simplificar, temos de partir do principio que na maioria das vezes estamos a complicar desnecessariamente..

sempre ambicionei ter coisas estupidamente simples. coisas de tão boas e fáceis de viver, que dão aquele aperto no peito: que raiva, isto é tão irritantemente bom que não sei como não o percebi antes. quando encontramos alguém que encaixa na nossa vida de uma forma estupidamente simples ficamos ainda mais irritados. e porque não estamos acostumados, caímos na tentação de procurar problemas, quase desconfiados: isto não pode ser assim tão bom e tão fácil.. nah, aqui há truque.. só pode!! mas não há. tem a ver com entrega. e cumplicidade.
quando dás tudo que tens, a cabeça sossega - porque não há duvidas do que se quer. simples. quando sabes que lutas com todas as tuas forças para que corra bem, perdes o medo de errar - porque não há arrependimentos. simples. podes até não ter estofo, nem coragem, nem contexto que te permita chegar ao que queres, mas quando sabes que dás a cara à luta, sem medo de ires contra a parede, perdes o receio de arriscar. porque arriscas tudo ganhar. simples. quando tudo na outra pessoa se encaixa naturalmente, como se tivéssemos sido feitos no mesmo molde, mas partido em dois corpos separados, deixas de sentir a necessidade da procura. e aí, só aí, perdes a sensação de vazio - porque, cada vez que respiras, sabes que encontraste a parte que te completa neste mundo. simples. estupidamente simples. 

:: what to wear to bed?

dezembro 10, 2013



(marylin, 1960)
you know, they ask you questions, for example:

- what do you wear to bed. a pajama top? a nightgown?
so i said: chanel nº5.. 'cause it’s the truth. and yet, i don’t want to say nude..


há pequenos detalhes que são subestimados nas relações e nos amores. e nas casas de quem os vive. um dos espaços muitas vezes negligenciado é o quarto. o quarto é o último e o primeiro reduto de um casal. é lá que se vivem os momentos mais íntimos, mais próximos, as longas noites de conversa, as de amor, ou as tão mais importantes, de sono sossegado.
por isso os detalhes de qualquer quarto são tão essenciais: a disposição que se quer simples e linear, a decoração com pequenos objectos - ou com ausência de objectos. alguns livros de capas acolhedoras, duas ou três velas, luz sempre indirecta e lâmpadas de cor quente. um pequeno objecto que dê música - baixa - é essencial. e a cama sempre virada a nascente, para que a luz do nascer dia entre suavemente, mas directa no rosto..

importante também o que se veste na cama. no colchão em si mesmo. as capas da cama que sejam sempre discretas e de tecido confortavelmente apelador: para que apeteça a qualquer momento repousar ali uns segundos, aninhado num colo, abraçado num corpo, ou apenas quieto a pensar alto.
mais que quatro almofadas é distracção. duas maiores para encostar, de preferência de pêlo macio. e duas mais pequenas para dormir. qb. os lençóis sempre lisos: porque não se querem protagonistas, apenas o fundo do palco. qualquer linha, boneco ou desenho já é exagero. de preferência que sejam de cor escura, para que a linha dos corpos sobressaia. o tecido sugere-se fresco no verão e suave e quente no inverno. mas mais importante que tudo, que a cama cheire sempre bem. não a perfume, nem a amaciador de roupa. não, que cheire a gente, a sono, a preguiça, a languidez.

e chegamos ao essencial: o que se veste enquanto se está na cama. de preferência, nada..
deslizar por baixo de um lençol e sentir a pele do outro corpo ali ao lado, é do mais puro amor. uma mistura de sensualidade e intimidade. de proximidade. de união. uma mão que percorre um corpo sem roupa será sempre mais carinhosa, mais doce, mais arrepiante.
bom ter sempre por perto uma camisa - de linho - que se possa vestir rapidamente. daquelas já largas do uso, com o mesmo cheiro dos lençóis, em que já só se aperta apenas um botão, pela altura do umbigo. em que o peito fica a saltar fora, o pescoço desguarnecido, e a cintura despida a espreitar em cada movimento. sensualidade pura, quando vestes a minha camisa e o teu riso solto..

:: preparar

novembro 21, 2013



uma vez li num daqueles livros de gestão de tempo, que devíamos ir sempre 10 minutos antes da hora de qualquer reunião, para podermos simplesmente respirar o local. para nos ambientarmos. com o edifício, as cores, o ambiente da reunião. para podermos parar 5 minutos antes de entrar e alinhar as ideias. confesso que como ando sempre em contra-relógio, comigo não dá. mas há algo similar que me habituei e que me tem dado trunfos na vida: preparar. e aqui não é só preparar a apresentação, o tema, a reunião. mais que isso, é preparar cenários para o mesmo objectivo final. se A correr mal, ter um plano B, um caminho C, uma opção D. é que, estando preparados, podemos ao longo da conversa perceber o melhor caminho para o que pretendemos, e assim chegar mais facilmente a um consenso. a razão dá-nos os vários caminhos possíveis, mas é a percepção emocional, que no momento certo, se apercebe de qual pode ser o melhor caminho para os nossos propósitos.

faço o mesmo na vida pessoal. gosto de preparar os dias com algum alinhamento: o jantar que seja de acordo com os convidados, que a música bata certo com o perfil da conversa, que a luz seja a adequada ao pretendido: festa ou intimidade. e isto não significa obsessão, ou demasiado pensamento. não, são apenas a base para que tudo o que surja da espontaneidade possa ter mais força. a minha primeira empresa criava "ambientes". e é isso de que se trata "preparar": é criar o ambiente certo, no campo profissional, ou pessoal, para que o destino se vire para aquilo que queremos. e depois, confortáveis, com as costas quentes de nos sentirmos em casa, no ambiente certo, tudo o que dizemos ou sentimos, faz mais sentido, encaixa bem, resulta melhor.

estranho é defender isto, e a única vez que pedi alguém em casamento tê-lo feito a partir do nada, no meio de uma conversa banal. mesmo apesar de andar a pensar no "ambiente" certo há semanas, que incluía viagem-concerto-surpresa, acabei por mandar a preparação ao ar e fazer o pedido num momento de espontaneidade e impulso.
porquê? não sei, mas talvez porque estava preparado cá dentro, onde interessa, na alma. porque mesmo para quem pensa tanto, para quem tem a estratégia como profissão, há coisas que estão acima do pensamento. mais do que a razão, quem vive na emoção, sabe que a alma dispara o que lhe apetece a qualquer hora. não porque seja impulsiva. pelo contrário, apenas porque - esperta dum raio - entende e percebe muito antes de o corpo e da cabeça o fazerem. por isso, acredito bem mais na emoção do que na razão. por isso, confio tanto na minha alma. a coisa que melhor soube preparar na vida, para receber quem já lhe pertencia..

:: não perguntes. vê.

novembro 11, 2013



desde pequenos somos programados para pedir, para perguntar. e menos para dar, ou responder. "quem não chora, não mama" deve ser das piores teorias que se ensinam, porque encerra em si o facto de quem dá, só o faz porque alguém lhe pediu/chorou. teoria triste, porque tudo o que recebemos, quando pedimos, sabe sempre - apenas - a resposta. e o melhor de ouvir não são respostas. "eu também gosto de ti" tem só metade do valor de: gosto de ti. "eu também quero estar aí", não vale quase nada ao lado de: eu vou aí! é que "eu também", podendo ser a melhor réplica que se pode ter, é apenas isso mesmo: uma resposta. e as coisas que contam mesmo não são respostas. são afirmações.

desde pequenos somos programados para pedir: queres namorar comigo? dás-me um beijo? casas comigo? deve ser por isso que desarmam as pessoas que em vez de perguntar, afirmam. não dizem dás-me um beijo. dão. não perguntam: queres viver comigo. entregam as chaves da casa. não perguntam se vamos amar para sempre: tatuam esse amor na pele. porque as melhores afirmações não se dizem, não se escrevem, fazem-se! as afirmações que realmente contam são gestos: quando se vai contra um muro só porque se quer alguém que está do outro lado, quando se enfrenta o mar bravo só porque se quer ir mesmo naquele barco. quando alguém nos mostra com actos e atitudes que é ao nosso lado que quer estar, sem o termos pedido, ficamos com o peito cheio de certezas, algumas que nem sequer sabíamos que podíamos ter.

por isso "do you love me?.." é a pior pergunta que se pode fazer. por muita ansiedade ou necessidade que se tenha em ouvir, é preciso saber esperar, no nosso canto, que o mundo nos diga o que quer de nós, o que somos, e para quem contamos. porque nesse momento, quando sem pedirmos, o mundo se muda, se transforma, se vira de pernas para o ar, só para nos mostrar o que valemos, aí sim, vamos ter todas as certezas que nenhuma resposta nos podia dar.
desde pequenos somos programados para pedir. sorte a de quem aprendeu*, ou foi ensinado, ou tem a capacidade natural de, antes de questionar, entender. antes de criticar, saber colocar-se do outro lado. antes de pedir, dar tudo. para antes de perguntar.. ver.


* nota: coisas que aprendi por estes dias

:: o decote

outubro 25, 2013


as costas de uma mulher são a sensualidade em seu estado mais inocente,
é como se nada demais estivesse à mostra, mas ainda assim, por tão pouco,
muita gente vai querer olhar duas vezes.

*Ingrid Bergman

enquanto a maioria das mulheres discute a possibilidade de decote no peito, as que prendem definitivamente são as que exibem, discretamente fabulosas, o decote noutra qualquer parte do corpo. um decote nas costas, um bocado de ombro, um bocado de barriga, ou só aquele início de braço. saber mostrar um bocado de pele inesperado é a arte suprema da sedução. e da segurança em si mesma. alguém que deixa um bocado do corpo totalmente desguarnecido, sem ser óbvio, tem de ser carnal e cerebral em simultâneo. mistura explosiva, improvável, mas que acontece em raras ocasiões.

mas o que importa mesmo - como em tudo nas mulheres - é saber usar esse decote, saber manter a linha ténue que separa a sensualidade da vulgaridade. proibido definitivamente qualquer tipo de exagero. a maior sensualidade vem de quem usa um decote como se usasse a mais desportiva das peças: quando a malha descai pelo ombro de forma inocente, quando os botões da camisa se abrem discretos e mostram parte do peito, quando o comprimento da camisola acaba 2 cm antes da cinta e mostra aquele pedaço de pele da barriga, numa inocência quase infantil. ou quando as mangas do vestido sao suficientemente grandes para mostrarem parte das costas apenas quando os braços se movimentam.

alguém que mostra um pouco de pele como quem respira, é naturalmente sensual. e se há coisa que não se produz é a sensualidade. ou se tem, ou não se tem. o teste do algodão é quando se tira a roupa. um mulher segura e sensual continua na mesma pose. como se tivesse o mais delicioso dos vestidos no corpo. mexe-se, anda, movimenta-se pela casa com a mesma postura, a mesma alegria, a mesma leveza. e a mesma certeza. há momentos quase fotográficos quando uma mulher se passeia pela casa com a camisa do seu homem. aos pulos na cama, a fumar na varanda, a apanhar o copo de gin na cozinha. momento supremo, quando se encosta na janela e deixa a luz fazer transparente a camisa, adivinhando o corpo nas linhas da sombra. não há decote, vestido ou estilista que vença esta sensualidade. não porque se cria, ou se é, ou se aprende. esta sensualidade tem-se, sente-se. mas mais bonito, entrega-se a quem se gosta. com um sorriso, uma gargalhada e um abraço meio despido, na camisa meio aberta..  

:: as estações

outubro 18, 2013



gosto de pensar na vida, e nos dias, como ciclos que se sucedem. ciclos que nos conduzem num caminho direito a um fim, mas com alguma forma de repetição. todos os dias começam e acabam no mesmo momento e da mesma forma. as horas, e os meses, repetem-se de 12 em 12. e um ano tem sempre quatro estações. quatro momentos de um ciclo, que 365 dias depois se reinicia. ou a lua, que teima em encher o céu com a sua repetição, monótona, mas ainda assim sempre surpreendente..

nas estações, tal como na vida, cada ciclo tem uma finalidade - e uma forma de ser vivido.
o verão enche-nos de energia, de cor na pele, de forças para o inverno rigoroso. o outono como que prepara para a luta, em modo de aviso. o inverno consome-nos as entranhas. dias mais escuros, mais sombrios, mais curtos. chegar à primavera é o objectivo de cada espécie, onde já vai haver mais alimento, mais cor nos jardins, mais luz solar. nas relações - nos amigos e nos amores - o ciclo é igual. repete-se entre momentos quentes e próximos, e momentos mais frios e distantes.
mas aqui, ao contrário do que seria normal, são os invernos que fazem crescer as raízes que seguram. gostar de alguém nos verões de uma relação é fácil. naqueles momentos em que tudo é sol e festa, em que os dias são longos e as noites de brisa quente são intermináveis, ai é fácil ser feliz. naqueles dias em que tudo corre bem, em que os horários se encontram, em que os amigos aparecem para jantar, em que a musica, em shuffle, bate sempre certo com o riso. aí é mais fácil ser feliz, aí um amor cresce, cria laços, ganha dimensão. mas não fica forte. fica maior, mas não forte.

a força de uma relação nasce nos outros dias, nos dias difíceis.
nos invernos rigorosos, em que o cinzento enche o céu, em que a neve traz um silêncio sufocante. nos dias em que tudo corre mal, em que o trânsito atrapalha, em que os amigos chateiam, e até a nossa simples imagem num espelho nos irrita. nesses dias, estar com alguém, mesmo longe, e conseguir chegar ao fim do dia ainda mais próximo, isso sim, faz ganhar pilares inquebráveis. quando tudo é difícil, quando tudo é dor e aperto, mas ainda assim se mantém o sorriso para quem se ama, quando só dizer o nome dela mantém a alma cheia. quando tudo é peso nos ombros, mas ainda assim a vontade é do abraço que sossega, e que, de repente, nos faz ficar leves. quando no meio do inverno é ao amor que nos agarramos, como se fosse a maior e mais segura das rochas, aí sim, sabemos a força das raízes que cresceram no verão. e como em todos os ciclos da vida, sabemos que o inverno há-de sempre passar. e que a primavera é já para a semana..

:: alone or lonely

outubro 16, 2013


.. i guess what i'm saying is that i like being alone, 
but i hate being lonely.'

a idade traz-nos certas coisas que nos fazem saber viver melhor. uma delas é a capacidade de estar sozinho. que é diferente de ser solitário - de estar só. estar sozinho é, num determinado momento - horas, dias - viver, fazer, estar sem companhia. mas saber que existem várias pessoas, amigos, amores, que nos acompanham onde quer que estejamos. que estão sempre connosco.
ser solitário, é alguém que vive sempre longe dos outros. fisicamente e sentimentalmente.
a maioria das pessoas não é nenhum dos dois. pelo contrário. porque vivemos em sociedade, e cada vez mais em comunidade, as novas famílias são os amigos, sendo que há sempre alguém comunicável, presente, à distância de um clic, que nos garante a companhia e a conversa. mas também por essa facilidade, às vezes cai-se no oposto de nunca estarmos sozinhos. sempre on-line.

conseguir estar bem, sozinho, dá-nos a serenidade de saber que somos auto-suficientes, e capazes de aproveitar as coisas boas da vida só por nós. uma música, uma paisagem, um livro, um pôr-do-sol. ou apenas um dia sozinho, sem conversa, sem troca de opiniões, de olhares sequer. cura de silêncio.
estar sozinho, ajuda a pôr os sentidos em ordem, alinha o pensamento, o que somos. por isso, às vezes precisamos de estar off. e isso não nos afasta de quem gostamos. pelo contrário. aproxima.
pela saudade que se sente, pela vontade de na próxima vez estarmos juntos. já naquele momento.
gosto de pessoas que são capazes de estar bem sozinhas. porque essas eu sei que quando estão comigo, é porque eu lhes acrescento algo mais na vida. estão por opção, e não por necessidade/hábito de companhia permanente.

difícil é quando somos obrigados a ficar sozinhos, afastados de alguém num momento em que não desejávamos. naquelas alturas que estamos sozinhos não por opção, mas por contingências da vida: trabalho, viagens, deslocações, barreiras familiares.
mas é precisamente aqui que quem gere bem "estar sozinho" convive melhor. porque estar afastado não significa estar desligado. porque não estar presente, não significa estar ausente.
quando se é parte de alguém, sabe-se que mesmo longe, quem gosta, quem se quer, quem ama, está sempre presente. porque estar sozinho é diferente de estar só..


* roubado à Mi

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