há dois anos, uma amiga, daquelas gémeas de vida, disse-me que, de repente, num fim-de-semana de férias se tinha apaixonado. achei aquilo prematuro, mas em poucas semanas, entre demonstrações excessivas de paixão, a coisa estava feita: noiva disse-me ela. que tinha esperança que desta vez era por ali o caminho. achei a coisa maluca, mas respeitei, com as minhas reservas, que lhe disse frontalmente. passado 3 meses liga-me, e diz que tem de me contar uma coisa. eu, primo da maya, chutei: estás grávida? e do outro lado entre soluços e emoção, um eufórico "siiimmm!! .. se eu já tinha reservas, fiquei assustado. mas a ouvi-la, e depois a vê-la, percebi - que estas coisas percebem-se -, que ela já não tinha só esperança: ela tinha a certeza daquele caminho.
este click da certeza, é algo que não se explica, é algo que só se aprende quando se vive. por isso, há quem não o entenda nunca. e este click não tem a ver com o tempo que se está com alguém. é ao contrário. se é preciso anos ao lado de alguém para ter esse click, então sim, está tudo errado. aÃ, é mais o click, do "então seja" e não o do "é isto que eu quero loucamente".
passar da esperança de ter uma vida ao lado de alguém, para a certeza de ser esse alguém, não tem a ver com amor, com o que se gosta, ou com o que se quer. esta passagem de nÃvel, tem mais a ver com a perspectiva com que se olha o outro. é o passar da visão de curto-prazo, para a visão de uma vida. é sair da confusão do dia-a-dia e sentir que pairamos no ar, por cima da luta efémera do quotidiano, e vemos lá ao fundo do horizonte a nossa velhice, juntos.
na esperança, sentimos que vamos ser felizes muitos anos. na certeza, tem-se o sossego de sentir que a procura terminou - não há mais ninguém para encontrar. na esperança, confiamos que aquele é o caminho certo. na certeza, construÃmos o caminho certo. na esperança fazemos planos degrau a degrau. na certeza, queremos tudo já! na esperança tem-se medo de perder. na certeza, tem-se medo de não conseguir. na esperança, quer-se uma vida cheia de coisas novas. na certeza, quer-se apenas segurar a vida que já se tem. na esperança, espera-se. na certeza, é certo.
na esperança, temos um permanente sobressalto com o futuro. na certeza, temos uma necessidade sôfrega de partilhar o futuro, e entregá-lo no mais bonito que um amor pode ter: uma filha. não por capricho, mas pela certeza que aquela vida vai ser perpetuada para sempre..
ps: v(a), desculpa, por me ter enganado na minha frontalidade. v(i), feliz, por me ter enganado.