:: proporcional

outubro 04, 2014



mais que equilíbrio, estabilidade, ou racionalidade, prefiro agarrar-me sempre à proporcionalidade para me guiar no dia-a-dia. proporcionalidade no sentido, não de me balizar entre dois limites, mas pelo contrário, de ter a capacidade de ir aos extremos de todos os limites, mas de forma a viajar sempre pelo centro da minha linha - da minha coluna. seja no que se faz, na música que se ouve, nas palavras que se dizem, gosto das pessoas que não sendo equilibradas (de todo), são de alguma forma proporcionais nos seus extremos: sabem ir de um limite a outro sem terem de mudar a personalidade, ou a forma como vivem. porque mais do que saber ao certo o que alguém vai fazer (nas pessoas certinhas), é bem melhor saber que o vai fazer daquela forma que se gosta (nas pessoas de loucura saudável).

exemplo máximo, uma mulher só é bonita se for proporcional. baixa ou alta, mais magra ou mais forte, mas proporcional nas suas formas. é daí que vem a beleza, do equilíbrio das partes, do enquadramento. tal como a roupa que veste. tem de ser proporcional ao contexto: se mostra as pernas, esconde o peito, se mostra um ombro, esconde o outro. se é em casa, descontrai, quase despe-se naturalmente. se é à noite, deixa algum brilho no tecido, num pedaço de cinto ou num sapato mais alto. se é no trabalho, deixa uma certa seriedade, misturada com algum arrojo bem disposto. uma mulher tem de ter o riso proporcional ao mau feitio, a doçura proporcional à dificuldade em a entender. e a sensualidade proporcional à capacidade de, no mesmo segundo, ser também a mãe mais séria perante um filho.

já nos amigos e nos amores, há quem defenda que devemos dar em função do que os outros nos retribuem. quase contabilizam os telefonemas, os convites, os jantares que se tiveram. quase contabilizam os anos que já se viveu para poder decidir o futuro. casar? ter um filho? ah, ainda é cedo.. pois, também aqui prefiro a proporcionalidade, não em função do que damos ou recebemos, mas, em função do que vivemos. há pessoas que ao fim de três semanas juntas decidem ter um filho. loucos? não, se o que viveram nessas três semanas supera o que se viveu antes em meses e anos. hoje, sei que quando se ama a sério, vive-se em proporção da dimensão do que se sentiu, do que se descobriu junto. seja em horas, dias ou meses.. ás vezes, juntos, isso é bem mais que uma vida inteira separados. e aqui, ama-se, mais do que por palavras, por actos. mais do que por vontades, por atitudes. e essas sim, têm de ser proporcionais às intenções. ama-se, não em proporção à razão, ao racional, ao lógico, mas em proporção à magia do que já foi, à alegria do que é, e à certeza do único que vai ser..

1 comments

  1. gostei das palavras, tantas de encontro ao meu pensamento, que me baralham.

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