"eu não tenho um problema de gestão de dor. eu tenho um problema de dor." (Gregory House)
quando se gosta em demasia - e gosta-se sempre assim nas histórias verdadeiramente puras -, não há maneira de não sentir dor. só quem não sente, quem não se dá, quem não se aproxima dos outros não vai ter dor. com a idade vamos aprendendo a defender-nos desta coisa, mas assim vamos também limitando o tamanho e a alegria das brincadeiras. quando somos crianças, não temos medo: sabemos que vamos cair, que vamos esfolar o joelho, eventualmente partir um braço ou uns dentes. mas, who cares? o que interessa é mesmo brincar desenfreadamente. até que a noite chegue e o sono nos vença a rebeldia. quem não se lembra de aterrar deitado, exausto depois de um dia bom de brincadeiras.. sono mais feliz.
eu não tenho um problema de gestão de dor: porque simplesmente não a quero gerir. gerir a dor é matar todo o sentimento que possa daà nascer. fugir da dor é matar à nascença a maior das paixões. porque não tenham dúvidas: elas fazem feridas, elas ardem, elas lixam-nos a cabeça, estragam-nos os dias, viram a vida de pernas ao ar. mas, who cares? elas, as paixões, incham-nos o peito, fazem-nos maiores pessoas, melhores pessoas. porque levamos ao limite as nossas capacidades. esticam as nossas qualidades e os nossos defeitos. somos sempre mais quando estamos apaixonados: mais loucos, mais estúpidos, mais felizes, mais idiotas. mais nós. quando ouço alguém dizer que temos de gerir como nos envolvemos, é como se me atirassem um balde de merda na cara. porque no momento em que se consegue gerir o que se gosta.. é também o momento em que se deixou de gostar.
eu tenho um problema de dor. permanente. porque quero sempre mais, quero agora, quero tudo a que tenho direito. e já. mas a vida é assim: irónica. na maior parte das vezes junta-nos com as pessoas certas, no momento errado. too soon, or too late. será? nunca saberemos. porque somos nós que fazemos o nosso tempo. somos nós que o fazemos certo ou errado. somos nós que fazemos o cedo ou tarde. e não adianta perguntar, nem querer saber já se é este o caminho. porque não há problema em não saber todas as respostas. o desafio da vida é mesmo não sabê-las. é essa dúvida que traz a adrenalina das paixões loucas. dói? dói. magoa? magoa. mas, who cares? as respostas hão-de sempre chegar, às vezes quando menos se espera. e até lá, sabe bem? muito. és feliz? demais. então vai, aproveita o dia como se fosses uma criança. a dor é má? não, a dor é linda. porque não é a dor triste de não encontrar quem se quer, não é a dor da frustração de não saber o que se quer. é a outra dor, a boa: a de saber que subimos ao ponto mais alto sem medo da queda. que entregamos tudo, mesmo com o risco de perder tudo. que damos o melhor de nós, mesmo com uma venda nos olhos: como se estivéssemos a brincar num quarto escuro, de mão dadas, abraçados, mas sempre aos trambulhões, a tropeçar nos móveis, a cair entre gargalhadas e dentes partidos.. dói? não. ama-se.