famÃlia é uma palavra bonita demais, a que tantas vezes não damos o devido respeito. nem valor. porque deve ser o maior elogio que alguém nos pode dar: chamar-nos famÃlia.
a primeira famÃlia que temos, a de sangue, como se costuma dizer não se escolhe. não se encontra. e por isso é tão especial, porque somos sangue do mesmo sangue, gene do mesmo gene, porque nascemos juntos, somos o nosso clã: aqueles que serão os nossos para sempre. mas depois existe a famÃlia que vai crescendo ao longo da vida, não pelos laços de sangue ou parentesco, mas pelos amigos que viraram primos, tios, manos e manitas. sim, porque aos amigos que são mais, dá-se um nome de famÃlia. são meus amigos? não, são minha famÃlia..
a diferença da famÃlia para os amigos é a presença. os amigos vão e vem. estão mais próximos ou mais longe. a famÃlia não está, é! a famÃlia nunca fica longe, fica apenas mais calada. os amigos chateiam-se, a famÃlia entende. os amigos cobram quando não telefonamos. a famÃlia telefona. os amigos não sabem quando são os momentos importantes da vida. a famÃlia aparece sempre sem precisar de aviso: lá de trás da porta, da casa ao lado, do outro lado do mundo, mas aparece sempre. e continuam as mesmas conversas de sempre como se fossem ontem. os amigos combinam para se encontrar. a famÃlia bate-nos a porta. aliás, a famÃlia entra pela porta mesmo sem bater, porque tem a chave de casa. aos amigos dizemos que gostamos. à famÃlia dizemos que os amamos. dos amigos sentimos saudades. da famÃlia sentimos a falta. os amigos enchem-nos os dias de coisas boas. a famÃlia enche-nos a vida de coisas boas.
como ontem, quando um dia difÃcil se meteu no meio de nós, apertou-nos o coração, quebrou-nos as forças. dia de merda, deixou-nos os olhos em lágrimas. mas o dia, mesmo duro - muito duro -, foi mais fácil porque a famÃlia estava lá. e nem foi preciso combinar: foram aparecendo, almoçou-se, conversou-se, fez-se companhia, bebeu-se uma verde, amparou-se os abraços, e os braços. e juntos, fomos famÃlia pela primeira vez num dia difÃcil. e juro que se cantou noite dentro:
"- esse coração assim desagasalhado, vais sair assim?
não, não vais. saÃste com um riso, mesmo no meio das lágrimas, deixaste a janela do sorriso aberta, coisa boa, coisa desperta. e olha: deixa-te de complicação, liberta a alma dessa prisão, deixa-te guiar pelo coração. porque há um bom feeling dentro de ti. um bom feeling dentro de nós, familia cuya.."