:: a espera(nça)

setembro 09, 2014



se há coisa muito latina, ainda mais que a saudade, é a esperança.
e quer uma, quer a outra, são atestados de fatalidade. porque fica-se na saudade, quase como alívio de não se ter. porque fica-se na esperança, quase como lamento de não se ter conseguido. "era bom, mas que fazer: resta esperar". e como sedativo da alma, canta-se o fado, bebe-se um copo, que quem espera sempre alcança (mentira). afogam-se as mágoas num ombro amigo e espera-se. espera-se que o mundo se vire para nós, espera-se que o trabalho fique melhor, espera-se que o outro apareça naquela esquina. ou então não. não se espera: faz-se. se o mundo não roda, rodamos nós no mundo, se o trabalho não melhora, fazemo-lo nós ficar diferente. se o outro não aparece, viramos nós a esquina.

é que fazer, significa que se acredita. que é bem diferente de - apenas - ter esperança.
a esperança é um ilusão. acreditar é uma decisão. ter esperança é ficar parado a contar que o mundo mude pela acção de alguém. já acreditar é fazer o mundo andar - é fazer todos os dias alguma coisa, mesmo que infimamente pequena, para que o mundo ande, para dê um passo em frente, ou pelos menos, para que levante o pé. na esperança ficamos sempre nas mãos dos outros: quase conforto da inércia, alguém - ou o destino -, hão-de fazer por nós. pelo contrário, quando acreditamos de verdade, tomamos as decisões nas nossas mãos - ninguém fará melhor do que nós. porque todos podem dizer que não é possível, que não vai ser verdade, que não existe. mas quando se quer de verdade, não se espera para ser: faz-se. não se aguarda: luta-se. porque eu não espero que alguém consiga: eu sei que eu vou conseguir.

é por isso que eu já não tenho esperança. matei-a.
deixei-a afogar-se nas lágrimas tontas da tua ausência, no aperto das saudades que julgava ter, mas que eram mentira. tenho falta, tenho vontade de ti, mas nunca saudades. porque só se tem saudades do que se esqueceu, e tu, estiveste sempre aqui, estás aqui, todos os segundos. eu não tenho mais esperança na nossa história: isso era ficar parado. não, o destino já nos juntou de uma forma tão improvável, que agora está tudo nas nossas mãos - sem esperanças, mas com muitas certezas. porque quando se acredita é-se fiel. não a alguém, não a uma fé, não a um destino. é-se fiel ao que se quer. e essa é a maior alegria do mundo: saber o que se quer. sem esperanças falsas na ilusão do que vai ser, mas com todas as certezas do que se faz, todos os dias, para ser. e é essa a alegria que me dá força: é eu saber que te quero. é eu saber que nos queres. cada dia mais..

:: e apesar de tudo, rimos

setembro 01, 2014



e apesar de tudo, rimos.
essa - o riso - deve ser a qualidade que mais admiro nas pessoas. e não estou a falar daqueles que animam as festas com mil piadas e anedotas já de carreira. não, falo daqueles que tem sempre um riso para combater os dias maus. e um riso ainda mais forte para celebrar os dias bons. conheci na vida pessoas fantásticas nesta arte. algumas que já partiram, e que juro, tiveram os risos mais puros quando confrontadas com a pior noticia. risos de dor, pela partida iminente, mas de imensa gratidão por tudo o que conseguiram viver. deve ser por admirar tanta esta qualidade que me irritam os queixinhas profissionais, os desistentes prematuros, os chorões permanentes: aquelas pessoas para quem está sempre tudo mal, o mundo é injusto, o país é uma merda e tudo lhes acontece. bullshit, peguem num sorriso e façam-se à vida. que ela custa a todos. haja saúde.

e apesar de tudo, rimos.
essa - o riso - deve ser a marca mais bonita de uma relação. de amigos, de irmãos, de amores. a capacidade de rir no fim: no fim do dia mau, no fim de uma discussão, no fim de um choro compulsivo. quase obsessão, só sossego quando roubo um sorriso antes de me despedir dos meus. antes de os meus pais saírem de minha casa depois do fim-de-semana, antes de qualquer amigo desligar o telefone, antes de adormeceres, ali, na almofada ao lado. um dia bom tem de ter vários risos, uns de parvoíce, outros de gozo com nós próprios (que melhor há do que rir de mim próprio?), outros de tonterias que se dizem no meio de conversas banais. e um dia bom tem de ter ainda vários tipos de riso: aqueles discretos, que saem do nada e demoram apenas dois segundos; aquelas gargalhadas enormes, despregadas, quando nos mexem nos botões certos da ironia; e aquele riso silencioso, quando só os lábios mexem ao ritmo do brilho dos olhos - são risos quase de admiração, que dizem: tonto, se soubesses como é bom é ser feliz ao teu lado..

e apesar de tudo, rimos.
esse - o riso - deve ser o gesto mais bonito entre dois amantes. único, quando se ri no meio de uma noite de amor, antes dos gritos, depois dos beijos. único, quando no meio de um jantar de amigos, os olhos apenas se cruzam, e rimos em silêncio, no meio da conversa solta. único, quando te abro a porta já com uma piada estúpida de gozo, apenas para te fazer rir e soltar o tédio - cómico mesmo, como te irrita a ti própria, que eu te faça gargalhar nesses momentos.
mas a prova maior de um amor, é quando mesmo no meio das coisas más, apesar de tudo, rimos. porque a vida não vai fácil, tudo se demora, tudo se complica. as opções que parecem as melhores, descobrem-se sempre as mais lentas. mas entre a dificuldade do fazer, e a certeza tão grande do querer, o riso é mesmo a nossa melhor arma. porque rimos muito, como nunca. e rimos a sério: sobre o amor - lamechas, sobre o corpo - safado, sobre a alma - igual. mas sabes, rimos acima de tudo pela alegria simples que é estar junto - é a diferença entre amar, e ser feliz a amar..

:: vai dar certo

agosto 21, 2014



ao longo da vida fomos ensinados a limitar o que nos rodeia. primeiro o tempo, ou o que fazemos dele: a escola que tem horários, o sono que tem horas, as refeições que tem tempo. as férias que tem só aqueles dias, ou o trabalho que tem um relógio. depois limitaram-nos as opções: os gostos, as vontades, o que se veste, o que se ouve, o que se quer. e por fim, viciaram-nos as emoções, com tanta teoria e conselho sobre o que é amar, o que é uma relação, uma família. mas todos estes limites tem uma premissa perigosa por detrás: o querer racionalizar tudo, explicar tudo. é isso que os computadores fazem: nunca erram, porque vivem nos parâmetro da lógica. e é para isso que fomos programados: para ter um sentido objectivo em tudo o que fazemos.

pois, alguns de nós, os que querem (sabem) verdadeiramente entregar-se, conseguiram ao longo da vida libertar-se destas amarras: trabalhamos só quando achamos que sim, dormimos pouco, trocamos os dias pelas noites, o sol pela lua, a televisão que desligamos, pela música que veneramos. trocamos a poesia rimada, pela prosa livre. trocamos as ruas cheias de dia, pelas vielas onde nos beijamos à noite. e foi assim, sem limites, que aprendi a entregar-me a tudo sem medo: aos projectos de trabalho mais loucos, às opções mais arriscadas, aos caminhos menos óbvios. louco dirão alguns. sim, muito. mas é graças a este nível bom de loucura que consigo esticar a mente - e a alma. na profissão, em que misturo mil campos diferentes, na vida, no salto constante entre modos de estar e aproveitar. na personalidade: que, sem limites, goste-se ou odeie-se, é cheia de erros, mas única, e impossível de formatar num tipo, numa etiqueta. numa lógica.

e tem dado jeito, muito jeito, saber, por amor, esticar os limites. os limites do perdão, do querer, os limites da angustia que se suporta, da vontade férrea que segura. o saber dar, não para receber, mas pelo prazer de fazer alguém feliz em nós. porque aqui trocamos os amores racionais pelas paixões loucas. trocamos a segurança de uma relação, pela constante inquietude de uma alma gémea. trocamos o sono calmo, pela insónia junta em conversas tontas. trocamos o conforto do pijama da noite, pelo toque do corpo nu da manhã. porque rimos depois do choro, amamos em vez do sexo, gritamos depois do abraço, porque magoamos, antes de cuidar. sim, fazemos tudo ao contrário, fazemos tudo errado, mas no fim tudo certo - porque pode não ter lógica, mas tem uma vontade: viver com quem já está em nós. e se há coisas na vida que se lutam sem limites, o amor tem de ser uma delas. mesmo que corra mal. uma vez. ou duas, ou três. porque, como me disseram baixinho no outro dia: "vai dar tudo certo. e se não der, nós fazemos tudo outra vez.."

:: anti-gps

agosto 09, 2014


esta coisa de amar está-nos sempre a pregar rasteiras. não daquelas que magoam, mas daquelas quase brincadeira, que nos abanam e fazem soltar um riso: - oh, parvoíce, nem te estava a ver e tu aqui a minha frente!! porque, ás vezes, não vemos o óbvio e tropeçamos: deixamo-nos acomodar e não conseguimos perceber a evolução, a mudança, as novas formas de mostrar o que se gosta, o quanto se quer. mas é precisamente essa mudança que torna um amor mais forte: não é o mantermos sempre os mesmos rituais, a mesma forma de dizer amo-te. é precisamente o contrário que mantém a chama acesa: o haver sempre uma maneira nova de mostrar, de sentir, uma maneira nova de ser feliz. de fazer, quem queremos, feliz.

não há nada pior do que tornarmo-nos previsíveis no amor. podemos saber com o que contamos, isso é bom. devemos saber como o outro vai reagir, isso é bom. mas nunca é bom ter ao lado alguém previsível. é bom ter uma base que nos sossega, mas perfeito é ter um topo que nos deixa sempre ansioso: sempre na expectativa de uma pequena surpresa, uma pequena foto, uma mensagem, uma taradice nova, um gesto inesperado. que nos tolda - de emoção, de desejo, de riso, ou simplesmente de carinho. é por isso que não gosto dos GPS. porque gosto de conhecer o mapa da estrada, mas prefiro deixar ao acaso a escolha do caminho. maravilhosas as ruas que descobri sempre que me perdi. como maravilhosos todos os momentos imprevisíveis entre chegares a casa e adormeceres no quarto. porque o mapa é sempre o mesmo, mas todas as noites o caminho é diferente. é novo.

às vezes jantamos, outras vezes apenas bebemos. às vezes passamos horas a ouvir musica, outras vezes apenas contamos o dia-a-dia. às vezes lemos os nossos textos. e rimos. e choramos. às vezes fazemos amor louco, outras vezes namoramos à janela como dois adolescentes tontos. as vezes adormecemos num filme, outras vezes acordamos os vizinhos com o nosso filme. às vezes o suor toma conta de nós. outras vezes apenas o cansaço nos tolda os braços.
mas seja qual for o caminho, sabemos sempre para onde vamos: o sossego no outro. no trajecto há sempre uma forma nova de querer - no sorriso, no abraço, na companhia, no corpo. todos os dias diferente. imprevisível. mas é o fim - o sono junto - que nos traz a paz no outro. como tão bem me explicaste ontem, não precisamos de gps, nem de trajectos marcados, nem de linhas traçadas, para chegar aqui. porque amar de verdade é isso: é ter a confiança, a certeza, a vontade férrea, de, qualquer que seja o caminho, sabermos sempre o destino: o nosso sono junto. tu, no meu peito, feito porto. eu, na tua mão, feita âncora..

:: não te beijar apenas

agosto 06, 2014



não gosto de te beijar.. apenas.
não, tem que ser mais que isso, tem que ter um sentido. um beijo tem que ter uma finalidade, ser parte de algo maior. por isso quando te beijo, não te beijo apenas - sabes isso, não sabes?

no meio da rua, em cima da mesa do restaurante, ou naquela esplanada, quando te beijo não é apenas para sentir os teus lábios. não, é também para te dizer como sabe bem estar ali contigo, num momento tão desprendido, mas tão serenamente bom. adoro os beijos que te dou quando fico ali, apenas, a ver-te chegar do outro lado da rua. por isso, nessas alturas o beijo é leve, quase que te apanho desprevenida, toco-te os lábios, lento, mas fujo logo de seguida. e fico do outro lado da mesa com aquele sorriso de puto que te roubou um beijo, com aquele olhar tonto que diz: é tão estupidamente simples ser feliz ao teu lado..
já em casa, quando te beijo no sofá a meio da série, ou daquela musica, ou quando nos cruzamos no corredor, ou apenas ali pela cozinha, o beijo é de intimidade. aquela intimidade de quem partilha os pequenos momentos de um dia caseiro como se fossem poesia. o beijo continua leve, solto, quase seda a tocar nos lábios, mas já demora mais. já tem um braço que o acompanha e te prende a cintura, já tem uma mão te pega no pescoço e segura o rosto. já tem dois pés descalços, que se juntam aos teus, apenas para sentir a pele fresca no chão da cozinha. e depois do beijo continuamos apenas. continuamos a ver a série, a acabar o corredor, a terminar o jantar. mas com aquele sabor na boca: o sabor do outro.

e há também aquele beijo a que chamas safado, porque já sabes que não é apenas um beijo. não - é um ritual de ataque, de despertar do desejo. aquele beijo que te desafia, que chega perto da tua boca o suficiente para sentires o ar que respiro, devagar, mas sem chegares a sentir os meus lábios. tu atacas e eu fujo. eu beijo-te e tu sacodes-te para trás. e ficamos ali a brincar ao desejo, a trincar o ombro - que tens sempre despido-, a massajar o pescoço, a prender-te o pulso, a cruzar as minhas pernas contra as tuas. aquela dança de beijos, que se trocam, que aceleram a respiração, que aquecem a pulsação.
e depois, há o nosso beijo.. aquele quando chegamos ao mais puro dos momentos, em que o beijo é tão descontrolado como nós. às vezes mordes, outras vezes apenas queres silenciar os teus gritos. às vezes brincas com o calor da tua boca, outras vezes não chegas sequer a beijar - ficamos ali, bocas a 2 cm de distância, quietos, num grau de inclinação curva perfeita, quase parados, olhos nos olhos, enquanto todo o resto do quarto se mexe. até que o furacão passa, o corpo acalma e a alma explode em lágrimas, que caem lentamente do meu olho para o nariz, do meu nariz para os teus lábios. e aí, finalmente, beijo-te. num beijo tão demorado como o que te quero dizer: que ali, naquele momento, és a minha casa. és a minha paz. és a parte de mim que sempre senti falta, sem perceber sequer o que me faltava. por isso, quando te beijo, não te beijo apenas - sabes isso, não sabes?

:: o olhar

julho 25, 2014


a maneira mais bonita de admirar alguém é pelo olhar. naqueles momentos em que não precisamos de dizer nada para falar com os olhos. porque não há apenas um olhar: há milhares, múltiplas formas de dizer que gostamos, que queremos, que nos orgulhamos. por muitos dicionários que se juntem, não há palavras que descrevam a força de um olho cheio de brilho.
por isso, gosto tanto de te olhar - especialmente quando não sabes. olho-te enquanto falas divertida com os nossos amigos, e admiro a tua forma de ser. olho-te enquanto danças na janela, contra a luz, e admiro a tua elegância tão natural. olho-te enquanto acaricias o nosso filho, ou quando te enrolas com ele numa luta tonta na relva do jardim, e emociona-me a mãe perfeita que és. olho-te enquanto dormes no meu peito, e sossego, homem realizado, por te sentir tão segura ali..

emoção pura é quando dois olhares se cruzam. como quando te apanho desprevenida, a olhares-me com um sorriso, no meio de um jantar de amigos - feliz pela minha alegria ao teu lado, acho eu. ou quando me olhas enquanto trabalho, ou te falo do meu novo projecto: juro que no teu olhar sinto uma admiração que nenhuma palavra consegue descrever. ou quando ficamos ali no sofá apenas a ouvir as nossas músicas, a acariciar a pele semi-nua, e a olhar. apenas a olhar o outro - o meu passatempo preferido. ou quando prendes os teus olhos nos meus, no momento em que o prazer invade o corpo, lentamente. aquele ritmo da respiração ofegante, quando o brilho dos teus olhos grita tão alto. ou quando, depois, choro em silêncio. não por dor, mas por uma felicidade imensa.

arrisco mesmo que a cumplicidade de um casal se vê por aí: pela forma como se olham.
uma das coisas que mais me arrepia é a forma como todos à nossa volta nos dizem que se percebe o quanto nos ligamos. sintonia assustadora, essa capacidade de sermos apanhados a querer o outro, apenas com o olhar. como hoje, no meio do centro comercial: ficaste numa mesa, lá longe. eu fui apanhar o tabuleiro. enquanto esperava no balcão, olhei-te ao longe. e tu olhaste-me. e ficamos ali de olho preso um no outro, minutos de conversa, de carinho, de palavras que trocamos apenas pelo olhar. ali, por momentos estávamos só nós, no nosso mundo, mesmo no meio de uma multidão.
juro que me senti no meio do cenário de um filme, naquelas cenas finais, em que apenas se ouve a banda sonora e a câmara acompanha as personagens principais. sabes, daqueles filmes com finais felizes. mas não dos de ficção, não, daqueles que falam de histórias reais. sabes, daquelas histórias difíceis, cheias de armadilhas, mas que desde o inicio percebemos que vão acabar bem. isso, já sabes, dessas histórias, bonitas, como a nossa.

:: clínico geral

julho 24, 2014



'temo o homem de um livro só'
_Tomás de Aquino


o doutor Rui é o meu médico. será sempre. esteja longe ou perto, ele sabe sempre o melhor para mim, nem que seja numa consulta por telefone - e já foram tantas. porque é bom especialista? não, pelo contrário, porque não tendo nenhuma especialidade - é clínico geral-, sabe de tudo mais que ninguém. médico do corpo, mas também da alma, da vida, do trabalho, da família. depois, também é filósofo, é pintor, foi político - dos bons -, já tentou ser mecânico, engenheiro, e aposto que deve ter sido o arquitecto lá de casa. além disso, sabe falar sempre com aquele bom humor de quem leva, mesmo nos dias maus, uma vida boa. mistura fina de intelectual e homem da aldeia, salta do mais profundo dos pensamentos para uma caralhada inesperada, da mais sentimental das frases, para uma piada das inteligentes: daquelas que são um gozo bom com quem gostamos - as que nos fazem rir de nós próprios.

o doutor Rui é um dos meus ídolos. daqueles que olhamos com admiração desde pequenos e que, um dia, sonhamos ser iguais. acima de tudo porque ele é um homem de vários livros, de várias culturas, de várias fontes. espécie em vias de extinção! sim, porque nesta era da super-especialização só vejo pessoas a afunilar o caminho: vão por ali, com umas palas, e dali não saem. e não estou a falar só de trabalho. de tudo: percebem de vinhos, mas nada sabem de música. declamam poesia, mas não conseguem soltar um riso. dissertam sobre economia, mas não sabem abrir a porta a uma mulher. são apaixonados, mas não sabem ser safados. são divertidos, mas não sabem ser irónicos. e que diferença faz. o problema é que a maioria faltou ao livro que diferencia: o da inteligência emocional - onde se aprende aquela coisa 'simples' de saber apreciar a vida. em todas as suas facetas, em todas as suas possibilidades. aquela coisa de saber viver com emoção. saber dar, saber receber, saber perceber o outro. saber entender (e apreciar) cada detalhe.

somos a soma do que vivemos. dos vários caminhos que percorremos. por isso quanto mais especialidades se espreitou, mais se cresceu. o teste do algodão é a música: quem apenas gosta de um estilo, de uma certa década, de um certo funil estreito, é sinal que não tem a mente aberta, atenta, curiosa. quem não vai das músicas dos avós à musica dos filhos, é porque se perdeu algures num momento da vida. e ali ficou preso. pode-se viver bem assim? claro, não se pode é viver tanto.
por isso, hoje, já a caminhar para os 40, sou um gajo feliz por ter sabido ler os livros certos, na altura certa. hoje sei o que sou: um clinico geral da vida. daqueles que vivem desenfreadamente todas as possibilidades que o destino lhes dá. ou, pelo menos, todas as que quero viver. sério no trabalho, sou uma criança nas brincadeiras. amigo do amigo, interessa-me a alma - e o riso - dos que me rodeiam. mais que louco apaixonado, sou um safado bom. mais que amar, cuido. mais que ler, escrevo. mais que ouvir, vibro com a música que descubro. mais que ver, tenho prazer no que olho: uma paisagem, um objecto. um corpo. mais do que saborear, lambuzo-me. mais do que ser, sozinho, entrego-me a com quem sou, junto. e vive-se bem assim? vive-se mais assim..

:: chan chan

julho 23, 2014



um dia destes perguntavam-me se tinha algum abismo pelo "difícil": porque raio escolhes o caminho mais complicado, se sabes que há por aí outros caminhos mais simples? e hoje, olhei para estes senhores e acho que consigo explicar o porquê. a vida destes homens deu um filme. porque cantavam bem? sim.. mas não só. porque tinham uma pinta descomunal, entre o charme casanova e a doçura de um poeta safado? sim.. mas não só. porque cantavam com aquela voz lá do fundo da alma, naquela mistura que só se vive no calor dos trópicos? sim.. mas não só. a vida deles deu um filme, porque contra todas as dificuldades, eles venceram. porque caíram, mas levantaram-se. porque deu luta, mas ganharam. tiveram um anjo que os ajudou (o ry cooder) - há sempre um anjo -, mas foi a predisposição para correr o risco, foi a coragem para acreditar no destino, que lhes deu alma. e deu um filme, porque mesmo quando já poucos sequer pensam em viver, estes velhotes cheios de ganas, souberam viver de novo, a nova oportunidade que o destino lhes deu. era mais fácil ficarem parados? era, mas não ia saber tão bem.

pois, tal como esta história, com a vida fui aprendendo que nem tudo o que parece fácil é o melhor. ou sabe melhor. na profissão, nos amigos, nos amores, tudo o que é fácil nunca tem o mesmo sabor. no trabalho, são os projectos difíceis que dão luta. os já ganhos à partida nem lhes ligamos. como até no futebol: o Benfica este ano ganhou tudo. mas foi só por tudo o que se passou o ano passado (em que se perdeu tudo), que a loucura foi enorme. em todos os pequenos detalhes da vida, tudo o que obrigou a um esforço maior, tem mais valor. porque vale não só pelo que é, mas também pelo que foi necessário lutar para ser. por isso, acredito que algures onde se escreve o destino, se colocam dificuldades quase de propósito, para testar a fibra, o valor, a força dos que se querem. que no caminho da felicidade há sempre umas barreiras pré-teste, tipo: "ai acham que se gostam que nem loucos? então superem lá isto!! mostrem lá o que valem!".

e a vida tem nos testado muito a coragem. apertou-nos desde o primeiro dia. a vida, essa puta, só nos criou dificuldades, entraves, barreiras. o rio ia para um lado, e tivemos de remar contra a corrente, convencê-lo a mudar de sentido. tivemos de construir o barco, madeira a madeira, em cima dos rápidos, sempre a escorregar. andamos a remar separados tanto tempo, meio perdidos na corrente, a ir contra as árvores da margem, a bater nas pedras. a precisar de ir, para voltar. a precisar de cair dentro de água, para saber o que era a falta de ar - do outro. mas se fosse um rio calmo, não era o nosso rio. se não tivesse corrente, podíamos boiar, ficar parados no barco, apenas a apanhar o sol, mas esse não é o nosso rio. o nosso tem rápidos a toda a hora, tem gritos, tem risos, tem curvas loucas cheias de troncos selvagens, tem família tonta a gritar por nós nas margens, a lançar-nos a corda sempre que precisamos. o nosso rio tem cada dia mais força, é cada dia mais fundo, sem pé. é perigoso. mas só assim tem aquela água transparente, cheia de corrente, com sabor a fresco: água pura. rio difícil? sim, mas (também) por isso tão único.

:: oh, something quiet now

julho 22, 2014


oh something's quiet now.. is it inside my head?
as we're looking at the mirror together something's quiet now..

não há nada mais puro e sincero, que o teu olhar quando aprecias a vista do parapeito da janela, durante o cigarro. um respirar silencioso, um vazio preenchido, peito cheio. não há nada mais puro e sincero que ficar ali apenas a adivinhar o que te vai no pensamento, a percorrer a tua alma, as linhas do corpo que ainda pouco antes fora meu. sentir-te ainda no meu corpo. não há nada mais puro e sincero que respirar ao ritmo lento do fumo do cigarro. que em silêncio sai dos teus lábios. um silêncio de palavras que não se precisam dizer, mas que ecoam mudas pelo quarto. não há nada mais puro e sincero que deixar-me ficar deitado na cama, a um metro de ti, a contemplar as tuas formas sentada no parapeito, as tuas pernas longas a fecharem a curva do teu tronco, e o teu queixo levantado enquanto olhas a rua lá em baixo. não há nada mais puro e sincero que o teu olhar no meu, o teu rosto que se veste de ternura sem falar, apenas com uma pequena rotação no pescoço, um esgar do lábio e um brilho de lágrima..

e levantar-me, abraçar-te de lado, por cima da camisa que vestes, puxar da manta, agasalhar-te, aquecer-te os ombros enquanto acabas o cigarro. sempre em silêncio, devagar, como o respirar. e dizer-te baixo, ao ouvido, com o queixo descansado no teu pescoço: amo'te.
não há nada mais puro. e sincero.

:: procuram-se!

julho 20, 2014



procuram-se:
mulheres divertidas, simpáticas, bem dispostas, de bem com a vida e com a noite. soltas, leves, descontraídas, desportistas qb, que falem o suficiente para interessar, mas não tanto que dispensar. que saibam ter sempre um ponto de sensualidade e um ponto de fragilidade. que não vivam no pedestal, mas não que seja necessário - de todo - puxá-las para cima a toda a hora.

com a sua profissão bem arrumada, que lhe dê independência, mas também uma certa ocupação. em que o relógio seja uma coisa pouco importante, e dispensável sempre que justificável. mas que precisem de algum tempo só para elas. que leiam, discutam, argumentem, apreciem e filosofem, mas que se riam disso tudo no fim. especialmente delas próprias.

que tenham um bom gosto pelo menos tão bonito como elas, que saibam ser discretas, mas que encham uma sala com o seu riso. que tenham uma pele brilhante e suave, mas a força selvagem nos gritos, nos gestos e no amor - o físico. que gostem do mar, da lua cheia, de caminhar sem destino, mas com muito de sal e pouco de doce. com a dose certa de loucura, mas com a certeza da frontalidade, sinceridade e carinho pelo próximo (eu, pois claro).

que saibam ser poéticas ao gritar golo e fashionistas a cozinhar o jantar. que sejam as melhores amigas das minhas amigas. que façam festas todos os dias, mas sosseguem no silêncio do olhar. que escrevam com o coração na boca e falem com a alma nos olhos. que se divirtam com a prosa, que sejam britânicas no humor, italianas na postura, espanholas na fala, e francesas no quarto..
mas principalmente, que sejam - ainda - mais bonitas ao acordar que ao deitar..

:: a sedução da pele

junho 16, 2014


gosto de ver pele. deve por isso que gosto mais do verão, ou de quem vive o ano todo como se fosse verão. gosto das pessoas que mostram sempre pele: um ombro descoberto, uma cintura que não se tapa, um braço com uma manga larga. umas pernas que se exibem nuns calções curtos. ou subtileza, um pé que se mostra no sapato semi-aberto. sim, porque um bom sapato tem sempre que mostrar qualquer coisa de pé. a primeira regra de sensualidade deve ser mesmo esse detalhe milagroso de saber mostrar a pele: de forma discreta, mas segura. que acenda o desejo, mas que não o torne vulgar. que faça um olhar rodar, mas que deixe a dúvida do que está depois. que faça mais do que querer, desejar. porque seduzir é isso: despertar o desejo no outro.

gosto de tocar a pele. passar a mão devagar, poro a poro, quase como se fosse um mapa que se lê com os dedos. como se fosse um instrumento de música, que se toca em cada bocado de pele. e o som sai na respiração de quem tocamos: às vezes mais sossegada, outras vezes mais acelerada. umas vezes mais demorada, outras vezes quase gemido. tocar a pele exige ainda ritmo. mudanças de ritmo. mais lento onde o corpo acalma. mais intenso onde o corpo desperta. e pausas. quando o corpo fica à espera, suspenso, do próximo toque que se demora. momento de intimidade perfeita, quando se toca a pele de quem se ama: com o respeito - e cuidado - de quem tem nas mãos o maior tesouro da vida. passar, devagar, todo o corpo dedo a dedo, deslizar como se fosse um lenço de seda, mas com o toque de uma pedra quente. e atrás levar a boca. que beija, que trinca. que brinca.

por isso gosto de te beijar a pele. porque depois do toque, tem de aparecer sempre os lábios. que te arrepiam o nervo, que te humedecem os poros. deixar a boca tocar, e os dentes soltarem um arrepio frio. sempre na pele. e sempre com ritmo. acelerar. travar. e num jeito safado, brincar às escondidas: quando ficas com aquela dúvida de onde vai ser o próximo beijo. quando o teu corpo se contorce só com a possibilidade do beijo, ainda antes de os lábios sequer te tocarem. mas mais intenso, gosto de te beijar a pele depois de. naquele momento em que todos os sentidos ainda estão perdidos entre o que se gritou, e, quase em câmera lenta, apenas se beija um ombro. ou um olho fechado. ou apenas os lábios da outra boca. aquele toque de pele, íntimo, próximo, seguro. de quem sussurra um segredo enquanto te percorre: o meu mundo é na tua pele. a minha casa é no teu corpo.

:: 'sozinho', não 'só'

junho 10, 2014



por muito que pareçam similares, "estar só", e "estar sozinho", são quase opostos.
quando se está só, sente-se uma tristeza imensa, uma falta de alguém que seja a nossa procura, o nosso objectivo de vida: uma amizade, um amor, ou uma família. quando se está só, pode-se viver o mais bonito dos momentos e continuamos a sentir o vazio de não ter alguém que, longe ou perto, presente ou ausente, seja a pessoa que gostávamos de partilhar aquele bocado de vida.
estar sozinho é diferente - porque é um estado de alma transitório. é quando se passam aqueles momentos apenas connosco, entre o jantar de amigos de ontem e o beijo de amor de amanhã. quando se está sozinho, especialmente quando é por opção própria, sente-se um alivio imenso de poder fazer o que se quer, como se quer, quando se quer, porque haverá sempre alguém que nos acompanha. para quem "está - apenas temporariamente - sozinho", mesmo no meio do vazio, sentimo-nos completos, realizados na forma como vivemos, como partilhamos, mesmo no silêncio.

na correria dos dias e das agendas cheias, pode-se disfarçar a falta do que queremos: entre risos e abraços amigos, tudo parece menos menos urgente. mas também é aí que realmente damos valor ao que precisamos. porque não é de um abraço, é daquele abraço. porque não é de quem nos faça rir, é daquele riso que é igual ao nosso. não é de um beijo de carinho, é daquele beijo em que se sente o ar a fugir. a certeza de uma paixão maior, é quando nos sentimos sozinhos, mesmo no meio dos nossos. é aí, que percebemos que a vida só faz sentido ao lado de quem amamos. que cada alegria vivida com os outros, é sempre incompleta, pela falta de partilha da nossa outra metade. confusa esta coisa de viver: quando se está longe de quem queremos, sentimo-nos sozinhos no meio dos amigos, mas completos nos momentos de solidão..

engraçado é ver como a sociedade estranha ver alguém sozinho: "vem mais alguém para o almoço? está acompanhado? aguarda por alguém?" - como se uma pessoa não pudesse, sozinha, desfrutar de cada momento de uma forma positiva. por necessidades do destino, e por vontade própria, tenho passado muitos dias sozinho. porque às vezes sabe bem ir aquela esplanada apenas comigo, passar o dia naquela piscina apenas a ler, a ouvir música. ver aquele pôr-do-sol em silêncio - a ouvir-me no silêncio. ou como ontem, ali a ver aquele concerto, apenas eu, sozinho na cadeira, mas tão completo em cada música, em cada lágrima, misto de emoção do momento, e da falta de quem se queria ali. porque quando se está sozinho (e não "só"), há sempre alguém que nos acompanha onde é mais importante: cá dentro.

:: os bons dias maus

maio 21, 2014


há dias em que nada sai certo. o trabalho complica-se, as palavras são mal entendidas, os horários desencontram-se, a bateria do telefone acaba antes de tempo, o trânsito da nossa fila é sempre o mais lento, e até a merda da caixa do supermercado é a única que não avança. há dias assim, em que tudo o que fazemos vai correr da forma mais complicada possível. nestes dias só queremos que eles acabem depressa, que possamos enterrar a cabeça no sofá, fechar os olhos e acordar no dia seguinte. com reboot completo e karma renovado.

quando duas pessoas decidem viver juntas estes dias são os mais importantes. porque superá-los é a maior forma de perceber o valor de estar junto. aliás, tenho para mim que estes dias são bons. são os bons dias maus. porquê? porque quando se ama, vivemos sempre dentro de uma panela de pressão. não há solução: quando se quer alguém a sério, a vontade de estar sempre junto, o desejo de estar sempre abraçado, gera sempre a pressão da ausência. mais a pressão dos contextos que atrapalham, mais a pressão da família que sempre complica um pouco, mesmo quando só nos quer bem. e tal como nas panelas de pressão, os dias maus são o pipo que faz sair a pressão. nestes dias, dizem-se as maiores asneiras, as palavras mais erradas, implicamos só porque sim, rabujamos só porque não. somos tal e qual um pipo - a apitar, a fumegar, e a rodar desenfreadamente. mas com a função certa: aliviar a pressão.

por isso, mesmo que hajam conversas cansativas pelo meio, falhas de comunicação, berros mimados ou olhares entristecidos, quando se chega ao fim de um dia destes e conseguimos despedir com aquele abraço bom, um beijo mais sentido e um amo-te na boca, então foi definitivamente um bom dia mau. porque sem danos, aliviou-se a pressão, pôs-se cá fora alguns receios, e aquelas questões simples, mas que andavam embrulhadas. nestes dias, garante-se que se mantêm a pressão na medida certa da receita. e esse será sempre o segredo: saber manter os ingredientes quentes e saborosos, na forma como eles se equilibram. dá que pensar, como as gerações mais antigas se prepararam bem melhor para gerir esta pressão. se calhar, porque tinham menos bimbys maricas, e mais panelas pesadas, feias, de apito estridente, mas duras como o aço..
bom mesmo, é quando quem nos atura, percebe o nosso nível de pressão, e mesmo que discorde das razões, reage. e age. e com um pequeno gesto, uma presença inesperada, um abraço mais demorado, ou um simples olhar, alivia o lume e acalma o apito descontrolado. obrigado, a ti, por teres feito bom, o dia mau de ontem..

:: incendeias'me

maio 20, 2014



há uma frase, daquelas de filosofia de cabeceira, que sempre achei piada: 'a distância para o amor, é como o vento para um fogo: apaga os fracos, incendeia os fortes!'.. e às vezes é preciso viver as coisas na pele para as sentir de verdade. para as testar. como quando parti e te deixei para trás. acredita, que assim que virei a esquina da manga de embarque rebentei em choro, com todas aquelas lágrimas que não quis deixar sair à tua frente. lágrimas já de saudades, de medo de nos perder, de medo de não conseguir aguentar. medo que o vento fosse mais forte do que tudo o que já construímos, do que as certezas que vemos no outro, do que a família que já é nossa. medo de ferir de morte a nossa alma. sim, porque somos só uma: alma junta, gémea, igual. mas não imortal..

e sim, os primeiros dias foram um sufoco. o vento deu forte, e a chama a aguentar, mas a queimar a toda a hora. a queimar a pele com falta do teu toque, a queimar o olhar com a falta do teu riso, a queimar cá dentro, bem lá fundo. juro que me apanhei várias vezes a apertar o peito, como se aliviasse uma dor qualquer que estava cá dentro, não sei onde, mas sei porquê. agarrei-me a tudo o que tinha, fiquei horas a falar só contigo mesmo sem me ouvires. a ser tua, mesmo sem saberes. a ver as nossas fotos, a sentir o teu abraço em tanta mensagem escrita, a rir com o teu sorriso nos mil vídeos, a ouvir-te nas nossas músicas, a cheirar-te na roupa que trouxe ainda vestida de ti. quando estou ali, em silêncio, juro que te ouço. ouço teu o riso solto quando digo tolices, ouço o teu fodasse quando te chateias com o meu berro brusco, ouço o teu gemido calmo quando me massajas a pele, ouço o teu respirar de sossego, quando adormeço no teu peito. ali, mesmo sozinha, sei que estou contigo, no melhor que temos: o nosso mundo, cada dia mais nosso..

e com o calor, o vento veio mais forte ainda e incendiou-me de vez. veio a certeza que não quero perder um milímetro de todo o terreno que já ganhamos ao mundo. que não posso deixar que nada se ponha no meio do mais bonito que o destino me deu: o nosso amor. com a chama a estoirar, veio a certeza que é ao teu lado que sou mais inteira, mais feliz, mais mulher. e até mais mãe. e depois tu. sempre dessa forma louca de me amares, de me dares tudo: compreensão, carinho e tanta paciência. incrível, ver-te forte desse lado, ver-te mais certo, a tentar sorrir - mesmo a saber que me escondias a tristeza que te consumia. ver-te, num passo tão rápido a quereres o futuro, a construíres o futuro - às vezes mesmo mais rápido do que eu sequer o penso. ver-te já aqui, a tratares da nossa vida, tão incrivelmente decidido. como foste decidido desde o dia em que te conheci. no dia em que disseste ao ouvido de quem nos apresentou: 'esta miúda vai marcar a minha vida'. há momentos assim, quase premonição, e nessa acertaste tanto. voltaste a dizê-lo, nos meus olhos, um dia já de madrugada. quando o sol acordou no meu corpo despido nos teus braços. acho que foi aí, naquele sol quente da primeira manhã, que me incendiaste na pele este fogo bonito. este fogo, cada dia mais forte.
sempre, cada dia mais..

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